ANTÔNIO LOPES DE LIMA (Parte III)

O POLÍTICO DE VANGUARDA

Apesar das dificuldades em debatermos os assuntos de forma separada, como se o biografado vivesse tal qual um personagem de facetas fragmentadas, faremos um apanhado sucinto sobre sua vida pública decorrida principalmente em terras de Fonte Boa, lugar que atraía grandes interesses políticos.

Dezenas de Jornais expunham como a vila era politicamente disputada. Mas essa competição não se relacionada apenas aos cidadãos locais. Pairavam sobre o lugar os numerosos olhares e interesses de políticos da capital, pois, além de manter um forte colégio eleitoral, concentrava grandes comerciantes, coronéis e outros atores que, historicamente, influenciavam direta e indiretamente nos resultados.

Alberto, apesar dos noventa e poucos anos vividos, forte e firme, carinhoso e atento, exemplo de lucidez e vigor, e que de sua geração era o que mais guardava detalhes sobre seus avós maternos, sob o êxtase de uma chuva mansa que caia em Manaus, em mais um sábado de visitas, participou-nos que o seu avô Antônio já havia se tornado político de destaque na sociedade, tendo contribuído, inclusive, na formação de muitas lideranças locais. Entre os aliados do grupo ao qual pertencia, destacava-se o jovem capitão Rodolpho Índio de Maués, que chegou a alçar o cargo de Superintendente Municipal (prefeito), e depois o de deputado estadual por Fonte Boa (1916 – 1920).

Em sua trajetória de homem público, Antônio se popularizou por ter sido “republicano convicto”, e um político de vanguarda. Segundo Eurídice, ele costumava centralizar suas ações pautadas nos ideais e experiências tidas como modernas, muitas das vezes vistas como “ousadas, e confrontadoras”. Decerto que a jovial República nos seus primeiros raios de sol trazia consigo resquícios do Império que perduraram por longos anos. Isso quer dizer que também dispunha de certos ranços desse período, até porque toda relação de modernidade sempre traz consigo as permanências do passado.

Qualquer um pode pensar que, embora todo o envolvimento e influência na política local, nela sua participação tenha sido periférica, considerando não ter participado de nenhum cargo eletivo na vila, a exemplo de intendente, superintendente ou deputado. Para Alberto pensar dessa forma seria um grande engano, pois seu avô escolheu ser o que convencionou chamar de “político social”, daqueles que davam apoio aos grupos e às convicções da qual acreditava ser o melhor e mais justo para a sua terra. Era de base, articulador e visionário. Pautava-se sempre de forma serena. Era crítico com um tanto de gente, mas principalmente com ele mesmo. Sua devoção humanista trazia consigo algumas concepções filosóficas, em verdade, nem sempre bem aceitas por alguns correligionários. Sobre essa questão, Alberto suscitou outra lembrança interessante a respeito do seu “velho avô” português:

Tenho em mente uma frase que ele costumava falar quando estava reunido lá em casa com meu velho pai Belarmino e outros políticos. Dizia que eles deveriam sempre tomar muito cuidado com a cegueira provocada pelos aplausos e parabenizações que recebiam. Hoje eu entendo o que ele queria dizer. É por isso que ele jamais deixou que o sucesso conquistado o cegasse.

Para melhor compreensão de como ocorriam os embates políticos em Fonte Boa, basta ler os jornais, os periódicos que circulavam à época, principalmente os do final dos anos oitocentos. Em certas ocasiões encontraremos fartas notícias a respeito de diversas confusões ocorridas por lá, momentos sangrentos, brigas políticas intensas, mudanças de governos, deslocamento de tropas da polícia do Estado para “promover o restabelecimento da paz e da ordem”. No entanto, deve-se destacar, que da mesma forma se vivenciou naquele vilarejo grandes ações, umas de superação as adversidades, outras de amadurecimento e demonstração de afeto; feitos progressistas que ajudaram a transformar Fonte Boa.

Continua...

LINS, Eylan Manoel da Silva. OS PIONEIROS: raízes da Família Lins no Município de Fonte Boa, 2023