ANTÔNIO LOPES DE LIMA (Parte IV)

O CONDE ALEXANDRE SABBATINI

Ao final da manhã de um outro sábado, Alberto nos trouxe uma última informação, amornada sobre o calor de Manaus: que em seu município, à época de seus antecedentes, residiu um Conde italiano amigo de seu avô Antônio:

Quando papai chegou à Fonte Boa em 1907, o Conde não morava mais por lá. Parece que já tinha até morrido. Sei bem que lá na “terrinha” ele foi contemporâneo dos meus avós maternos, pais da mãezinha Zulmira. Sei bem que um dos filhos dele, que era fonteboense, fez muito sucesso como violinista. Sucesso mundial. Vovô nos contava essas histórias. Procure saber sobre isso para colocar no seu livro.

Seguindo a sugestão, buscamos incessantemente documentos que pudessem revelar o sujeito suscitado em suas memórias. Anos depois acessamos algumas mensagens diplomáticas, textos de jornais e trabalhos acadêmicos que proporcionaram referendar tal episódio até então subsumido da historiografia local. Da mesma forma conseguimos averiguar a forte relação que possuía com o capitão Antônio e sua família.

Tratava-se do Conde Alexandre Sabbatini, fidalgo italiano, que antes de vir para o Amazonas, em 1879, trabalhou no Rio de Janeiro. Quando esteve nesta região, a serviço do consulado de sua terra, desempenhou no decurso de muitos anos, em Tefé, com exercício em Fonte Boa (onde morava), várias funções administrativas e diplomáticas.

Conforme a historiadora Maria Lucia Tinoco Pacheco, Alexandre Sabbatini, foi também um estudioso da Língua Geral (Nheengatu), tendo naquela vila, em 1880, iniciado no aprendizado desse dialeto, um outro Conde Italiano, de nome Ermanno Strandelli, que por vez, se tornou no século XX uma das mais importantes autoridades da chamada “Boa Língua”.

Alexandre foi casado com a amazonense Guilhermina Xavier, com quem teve um filho que se tornou um fenômeno da arte musical. Seu nome era José de Sabbatini, nascido em Fonte Boa aos 20 dias do mês de outubro de 1886. Relatos publicados no jornal A REPÚBLICA, edição de 18/03/1913, afirmam que o rebento prodígio teria herdado do pai o talento e o bom gosto pela música. Que após se formar em 1906, no Conservatório de Parma (Itália), se tornou, como bem suscitou Alberto, um dos mais brilhantes violinistas e maestro do século XX. Ademais, conforme avultou o folhetim, o jovem Conde Sabbatini:

Já era um dos mais destacados artistas nacionais do violino, quando em uma dessas viagens, acabou por se encantar pela cidade e pelo povo de Curitiba, Paraná. Lá resolveu fixar residência, abrindo um curso de violino e música moldado conforme os programas dos melhores conservatórios europeus, ministrando aulas, a princípio, no seu sobrado localizado a Rua 15 de Novembro nº 5, no centro de Curitiba.

Na época em que esteve em Fonte Boa, seu pai, o Conde Alexandre Sabbatini, manteve grande atuação política e participação ativa nas festas promovidas pela Intendência. Além de amigos foi também correligionário de Antônio. Em nota publicada no Jornal do Commercio, edição de 28/11/1889, ao transmitir para o governo do Amazonas algumas notícias sobre a pequena vila, do qual detinha grande prestígio, escreveu:

[...]Também seguiu para Manaus o Capitão Antônio Lopes de Lima, amigo virtuoso que além de influente líder político é comerciante e cidadão respeitado no vilarejo.

Ao final de outra nota, endereçada a um conterrâneo residente na Capital, publicada no folhetim Amazonas, edição de 21/10/1901, o velho Sabbatini, expressou com carinho o apreço que tinha pelos Freire de Lima:

Ilmo. Sr. Francesco, - Amazonas, 19 de outubro de 1901. Amigo e senhor. – Encontra-se nesta Capital o Capitão Antônio Lopes de Lima, respeitado amigo, que posso asseverar ser, o patriarca de uma das mais distintas famílias de Fonte Boa. A minha senhora, envia suas felicitações. – Do seu amigo e patrício. Conde Alexandre Sabbatini.

A ilustração desse fragmento histórico sociológico objetiva mostrar o quanto aquele lugar se destacava na região do Alto Solimões. Ter uma autoridade de elevado título residindo na vila de Fonte Boa, mostrava claramente isso. Por outro lado, denota-se vários questionamentos. Haveria muito mais que intenções diplomáticas algum outro interesse do italiano as coisas da região, além também de estudar a língua indígena? E seus descendentes, por onde ficaram? Sabe-se, por notas de jornais, que no início do século XX, havia na vila um senhor de nome Zeferino, cujo sobrenome era Sabatini. A discursão abre espaço para variados estudos, olhares e interpretações, principalmente, a quem desejar enveredar-se pela história desse lugar. Fica a dica.

Continua...

LINS, Eylan Manoel da Silva. OS PIONEIROS: raízes da Família Lins no Município de Fonte Boa, 2023

Eylan Lins
Enviado por Eylan Lins em 29/09/2023
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