Belarmino Ferreira Lins (PARTE III)

O INÍCIO DE UM NOVO MOMENTO

Belarmino, por diversas vezes, compartilhou com a família a sua própria história. Numa dessas, expôs aos filhos como Fonte Boa entrou em sua vida. Tinha 17 anos de idade, quando a mãe o inteirou haver no “longínquo” Estado do Amazonas um vilarejo, uma “terra de bons frutos” onde viviam um punhado de “aparentados” que conseguiram prosperar trabalhando no comércio e na extração do chamado ouro negro, dentre eles, o coronel João de Siqueira Cavalcanti, primo, amigo e correligionário do “velho Belo”, que até 1889, também residia em Milagres, conforme notícia publicada no jornal Gazeta do Norte, edição de 01 de julho do mesmo ano.

Informou que, sua mãe, Maria José, foi a principal responsável por sua vinda a Fonte Boa, terra das arirambas, e a autora da carta encaminhada ao compatrício solicitando acolhimento ao filho caçulo. A intenção era, que “Belinho”, pudesse “naqueles ermos distantes” desfrutar da mesma oportunidade que tiveram os conterrâneos do agreste, que outrora buscavam fugir da pobreza e da miséria derivadas das secas constantes que avassalavam a região, e das inúmeras estruturas sociais injustas e desiguais coexistentes. Como se no Amazonas fosse diferente.

Eurípedes dizia haver nesse evento uma herança medieval. Quando a família possuía muitos filhos, enquanto o primogênito herdava os bens, o último era mandado para estudar nos mosteiros, quando não, enviado às guerras ou missão santa. Somente assim poderiam construir suas histórias. Destacou que seu tio Lacordaire, enquanto filho mais velho, após a morte do pai, era quem gozaria desse privilégio, cujo poder lhe daria o condão de presidir as cerimonias do culto doméstico, herdando sozinho os bens. Contudo, essa predileção não era a espoliação dos mais novos em detrimento ao primogênito, pois no fundo o fruir dos bens continuava, mas com a preeminência do mais velho, representando neste, a indivisão do patrimônio e da família.

Para Clarice, o que realmente contribuiu para a vinda de seu pai ao Amazonas, foi o motivo de querer se “enxerir muito cedo para namorar”. Algumas crônicas dizem, que lá no Ceará, na flor de sua juventude, teria se apaixonado por uma moça a ponto de almejar casar-se. (seria a filha do dito coronel antes citado?) Contrariada com a situação, a mãe, recusando-se concordar com um futuro laço matrimonial, não permitiu que o relacionamento fosse adiante. Entretanto, Maneco e Dalila, após confirmarem a história, revelaram que a negativa, conforme ouviram falar, também se deu porque era moço e imaturo. Além disso, não portava ainda de condições financeiras para se casar. Clarice, retornando ao debate, aditou não saber dos pormenores, mas, o motivo, de uma forma ou outra, influenciou sim nas circunstancias de sua migração, “pelos menos foi o que pude escutar de papai a respeito desse “amor fugidio” quando rememorava nostalgicamente as vivências e saudades do seu Ceará”.

Na acepção lírica do acontecimento é provável que Belinho tenha passado por dias amargos vividos sob a cálida magia da paixão com gesto de inocência. Mas qual jovem nunca sofreu vendo seu primeiro amor se esvaindo para longe de seus braços? O certo é que o tempo correu, e alguns meses depois o funcionário do Correios noticiou haver na agência uma correspondência procedente da região amazônica, endereçada à dona Maria José. Era a carta esperada. Belinho foi incumbido de ir buscá-la na sede do Postal. O intrigante é que não tinha noção que aquela simples epístola mudaria os rumos de sua história, e que seu “destino” estava sendo traçado naquele papel escrito à caneta tinteiro.

As linhas grafadas pelo Coronel Siqueira Cavalcanti, revelavam a “prima” Maria José, a alegria de poder receber em sua casa o aparentado. Ademais, ditava a mãe do jovem os procedimentos dos preparativos da viagem. Da mesma forma enfatizava não se preocupar com nada, já que o moço ficaria aos seus cuidados, e dele, em especial, receberia todo o amparo e atenção. Assim foi feito.

Continua...

LINS, Eylan Manoel da Silva. OS PIONEIROS: raízes da Família Lins no Município de Fonte Boa, 2023

Eylan Lins
Enviado por Eylan Lins em 06/10/2023
Código do texto: T7902649
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.