Belarmino Ferreira Lins (PARTE VI)

AS PRIMEIRAS LUZES DE MANAUS ...

Maneco expôs, se por um lado, seu pai nunca houvesse mencionado a data exata em que deixou a vila de Milagres, a efeméride de sua chegada, isto é, o dia 02 de janeiro de 1907, essa, frequentemente relembrava. Também destacou ter o seu genitor, por diversas vezes, vivenciado as lembranças do apito do vapor sinalizando a aproximação no cais da chamada “Paris dos Trópicos”, a Manaus da “Belle Époque”, que à época vivenciava o glamour da riqueza oriunda da economia gomífera.

Papai nos contou que, depois do apito do motor - que ele tanto reproduzia em suas crônicas, ao atracar no porto flutuante de Manaus ele viu um certo alvoroço dominando os passageiros amontoados no convés. Que ele, ao emergir do porão do paquete, depois de semanas de desconforto, sentiu, além do espanto da própria comoção, um banho de vento fresco matutino lavando seu rosto totalmente impregnado dos hábitos do sertão do seu Ceará. Ainda do porto ele pôde ver a igreja Matriz, e mais distante, acima de uma pequena colina, o colossal Teatro Amazonas, imponente como se fosse uma acrópole, despontando toda sua beleza e magnitude.

Na “encantadora, cosmopolita e cheia de contrastes, capital amazonense”, Belinho, aos 19 anos de idade, viu aflorar no horizonte um novo mundo, um cenário estranho, diferente de tudo que já havia visto antes. Cheio de insegurança, jamais passou a mente que dali em diante o “destino” o tomaria as rédeas de uma nova vida, ocasião que transformaria profundamente sua própria história.

Nesse dia, no cais do Roadway, entre as centenas de pessoas que se avolumavam na balsa flutuante, havia a sua espera um homem sisudo, trajando terno de casemira inglesa e chapéu sob a cabeça. Era o Cel. João de Siqueira Cavalcanti, conforme havia prometido, foi pessoalmente acolher o jovem aparentado. Em seguida, após dar as boas-vindas ao “primo”, tratou de encaminhá-lo ao vapor Cruzeiro do Sul, onde o embarcou (na primeira classe) para seguir viagem. Não seria dessa vez que Belinho debutaria conhecer Manaus. Enfim, no final da tarde, o “Gaiola”, pintado de branco e cinza, desatracou as amarras, e vestido de fulgurância festiva, com seus mastros iluminados, navegou durante cinco dias as águas barrentas do soberano Solimões, aproando ao alento das espumaradas rumo a seu destino.

LINS, Eylan Manoel da Silva. OS PIONEIROS: raízes da Família Lins no Município de Fonte Boa, 2023

Eylan Lins
Enviado por Eylan Lins em 10/10/2023
Código do texto: T7905246
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.