Da idílica villa em Wannsee à mansão no condado de Bielsko

Altos funcionários de uma administração nacional se reuniram numa luxuosa villa a margem do lago Wannsee. A pauta era a implantação para se transformar em fumaça milhões de dejetos que até o momento era feito em duas etapas.

O primeiro era o transporte. A segunda era a imobilização mecânica e a carbonização.

Algumas fabricas conseguiam até fazer por volta de duzentas carbonizações por dia e isso demandava duzentas aplicações mecânicas. Era caro.

Decidiram construir gigantescas fornalhas que poderiam fazer imobilização e carbonizar ao mesmo tempo cerca de 980 dejetos por hora, sem aplicação mecânica, o que seria uma imensa economia para os cofres públicos.

Alguns meses depois foi construída uma fábrica em Bielsko, Polonia.

O administrador mandou construir uma aplausível mansão com um belo jardim e um laguinho, ao lado fábrica, separada por um muro de altura suficiente para a privacidade tanto da fábrica como da mansão.

A fábrica teve uma alta performance quando atingiu a 2000 mil dejetos carbonizados por hora.

A sra. Raffert assistiu comigo o filme Zona de interesse. Numa cena, um funcionário maltrapilho entrega um grande saco contendo roupas a uma servente da casa do Comandante de Auschwitz Rudolf Höss.

O saco é levado até a esposa dele que prontamente separa algumas peças femininas, tomando posse de um valioso sobretudo de vison.

Ela o veste e com toda simplicidade e sensualidade feminina, se olha no espelho, orgulhosa como aquele sobretudo lhe deixa feliz. Num dos bolsos, ela encontra um baton.

Senta-se a penteadeira, faz um teste aplicando no dorso da mão e passa uma camada nos lábios, aprovando. Em seguida, faz cara de nojo. Limpa vigorosamente os lábios e o dorso da mão, jogando o baton no lixo.

A sra. Raffert soluçou e não conseguiu reter o choro. Ela tem amigas judias, filhas de mães sobreviventes de campos de concentração nazista.

O filme A Conferencia (Die Wannsee Konferenz), de 2022, pode ser encontrado no canal Prime. Zona de interesse concorre ao Oscar no próximo dia 10. Ambos filmes mostram o absurdo da banalidade da violência.

A grande maioria das pessoas acredita que foi o exercito alemão que dizimou os judeus. Ledo engano. O 101º Batalhão da Policia de Hamburgo foram os primeiros a usarem o tal meio mecânico de eliminação, por meio de revolveres e fuzis. Em Wannsee, os conferentes exultaram com a solução de se usar gás sulfúrico, posteriormente o zyclon, economizando assim 980 balas a cada hora.

Os civis de profissões burocráticas foram incumbidos das primeiras instalações que aprisionavam, além de judeus, políticos da oposição. Höss, Heindrik, Eichmann, Himmeler, Goebels, Spear e tantos outros, não pertenciam as forças armadas.

Ou seja, pessoas comuns como bancários, médicos, comerciantes, condutores, lixeiros.

Aos oitenta policiais do tal batalhão, foram-lhe dadas instruções por escrito para que matassem judeus em qualquer circunstancias. Então se sabe de caminhões e ônibus abarrotados de pessoas para serem eliminadas nas florestas vizinhas. No começo eram oitenta policiais. Doze se recusaram. Mas tinham que assistir e por fogo nos cadáveres empilhados nas covas e depois cobri-las com terra.

Alguns abitolaram. Depois se acostumaram. Um desses policiais disse que fazia um ato de misericórdia ao matar criança, porque ela iria sofrer sem os pais. Um outro desenvolveu uma técnica pra economizar bala. Obrigava a mãe a juntar sua cabeça com a da criança. Disparava um tiro só.

Isso tudo está registrado e acesso permitido a qualquer interessado. Nunca fiz turismo do holocausto (também não vou a velório). Amigos que visitaram esses campos de concentração tiveram acesso a documentos através de guias para esta função.

Um deles me mostrou uma fotografia que até hoje me perturba. Em Buda, na Hungria tem um monumento em homenagem aos judeus – Höss afirmou que 400 k judeus húngaros foram mortos sob sua administração – onde a margem do Danúbio, estão pares de sapatos de diversos tamanhos e modelos forjados em ferro. Nesse local, judeus eram amarrados em pares e dado um tiro só. O outro morria afogado.

Me perdoem se esse texto lhes perturba.