Como me fiz professor

Não sei bem como classificar o que escrevo agora, se é uma crônica, uma biografia, não importa. Sei que não o considero literário. Pode ser interessante a uns pouco, mas chato para muitos outros. Importa dizer que esse texto não será escrito de uma só vez. Estará aqui em construção, desconstrução e reconstrução. Escrevo-o direto na escrivaninha do recanto. Será acrescido de idéias à medida que me forem surgindo à cuca. O título é o mesmo de um texto que terei de entregar na faculdade ao fim do semestre, junto com o relatório da disciplina de estágio supervisionado de português e inglês. Talvez eu entregue este, que faço aqui, não sei.

Bem, eu poderia começar falando de quando era criança, minhas impressões a respeito dos primeiros professores de português, e tudo mais... não. Não lembraria bem, correndo o risco de, por imprecisão de minha memória, ser infiel ao que de fato aconteceu. Posso dizer seguramente que, desde o ensino fundamental até os dois primeiros anos do Ensino Médio, todos cursados em escolas públicas, nunca me veio à mente a vontade de ser professor. Quando criança, isso sim eu recordo, tinha a vontade, junto com um primo, de me fazer veterinário. Ele o fez, está no 3° período, creio eu, do curso de veterinária. Não foi o meu caso.

Um pouco mais tarde, no Ensino Médio, onde tudo nos pressiona para que façamos logo nossa escolha profissional, tinha em mente alguns cursos como Engenharia mecatrônica, ou eletrônica, ou mecânica (a tecnologia me fascina), e, timidamente, história, porém, neste último curso, o objetivo era o de ser pesquisador de tão fascinante matéria, não professor.

E assim segui até o início do terceiro ano, que cursei em 2005. Era a hora do "vamo ver", tinha que escolher o curso que eu pretendia fazer. História foi a escolha. Nesse momento eu já tinha me "conformado" com a idéia de ser professor. Nessa fase tive dois bons professores de história, o que me incentivou mais ainda a seguir tal carreira. Também tinha uma queda pela área de letras, mas história era a minha maior paixão. Fiz o vestibular e não passei. Não sei o porquê mas não me decepcionei tanto.

No ano seguinte, por ter sido de escola pública, consegui a isenção para o vestibular da Fafire, uma tradicional faculdade no Recife. o curso de História não estava entre as opções de curso que a faculdade oferece, sendo assim, optei por letras, com inglês como língua estrangeira. Passei e recebi uma bolsa de estudos integral. Na mesma época, consegui uma bolsa para o curso de história na Universidade Católica de Pernambuco, através do Prouni. Ainda assim optei por letras. Não sei o motivo. A desculpa que dei aos outros e a mim mesmo foi que a burocracia para entrar pelo Prouni era maior. Conversa fiada! Era a mesma coisa.

Antes de falar a respeito do curso, voltarei ao meu tempo de escola, num breve "flashback". No segundo ano do Ensino Médio, eu já tinha ouvido falar da professora que ensinaria na minha turma: que era chata, rígida, que falava tão alto que em outra sala escutávamos sua aula, entre outras informações que não lembro mais. O seu nome é Alcione. Ela falava (e ainda fala) alto mesmo, muito alto. Ela era rígida, admito, mas só quando a classe dava motivo. Chata ela não era, ou pelo menos eu não achava. O que importa e que, aos poucos, as aulas foram me envolvendo. O que mais me fazia gostar de suas aulas era o fato de ela sempre nos fazer, refletir, pensar, criticar, a respeito de uma música, um texto, um fato, tudo ao nosso redor. Ela tentava nos fazer ver o mundo como um louco, como ela mesmo dizia. Ainda lembro de seus "jargões" (parece que vocês jovens não pensam, não sabem refletir; você discorda? Então argumente; etc.). Nem todos alcançavam o objetivo, mas isso é natural. O fato é que eu amava esse despertar de criticidade. Desconfio que isso é que me fez optar pelo curso de letras quando o de história estava alí, ao meu dispor. Creio que foi isso sim, a "culpa" é dela. Porém, o que ela sente não é culpa, e sim orgulho.

Enfim, comecei o curso. Só hoje vejo que no primeiro período tudo eram flores. Eu não trabalhava e as disciplinas eram mais leves. Nesse período tive contato com a disciplina de língua portuguesa, com o excelente professor Fanuel Paes. Eu o admiro muito pelos conhecimentos que ele possui. Estudei também inglês com a doce Dulce. Eu já gostava do inglês, mas com essa professora eu me apaixonei por essa língua "bárbara", como dizia minha professora de latim. Eu me impressionei com o quanto eu aprendi em um ano com as aulas de Dulce. No terceiro período tive contato com a disciplina de Política e Organização do Sistema Educacional. Essa cadeira trazia muitos questionamentos e muita discussão a respeito do papel do professor e da educação. Nessa fase surgiu aquela sensação (creio que passageira) que todo futuro docente tem de que sua profissão pode salvar a humanidade. No período seguinte, na disciplina de Didática, vi que esse papel de redentor da humanidade é ilusório, já que tudo na educação "é complicado". Bem, ainda assim, a profissão me parecia muito bonita: levar o aluno a construir o conhecimento, (tentar) formar cidadãos pensantes e críticos... De fato é, em tese, bonita, mas deixarei para explicar o motivo do "em tese" mais à frente. Aqui estou eu no quinto período. Não detalhei aqui os anteriores para não correr o risco de tornar (mais) enfadonho o texto.

Estou estudando minha última cadeira de literatura brasileira. Lastimavelmente, só tive duas. Gosto muito da literatura, principalmente da análise dos textos. É um ramo que eu poderia, com prazer, seguir. A língua inglesa ainda insiste em me fascinar. Na disciplina de estágio em língua inglesa, a turma está trocando experiências trazendo sugestões de atividades com vários recursos, como música, quadrinhos, jogos, entre outros. Sem dúvida também adoraria seguir carreira como professor de inglês. Na área de gramática também tive dois ótimos professores, Fanuel e Ângela Torres. As aulas que tive com eles atreladas ao embasamento sociolingüístico que adquiri durante uma longa pesquisa de campo, fazem-me crer que a possibilidade de ensinar gramática não é ausente de minha mente.

Minha vida atualmente está um tanto quanto corrida. Trabalho de segunda a sexta, das 8 às 13h, num grande colégio particular, na função de monitor de redação. Nas terças e quintas, das 14 à 17h30min, ensino numa escolinha particular a disciplina de língua portguesa, na 5ª e na 6ª série. Ao menos duas tardes na semana tenho que ir aos estágio supervisionados, propostos por duas cadeiras do curso. Sendo assim, só me sobra uma tarde na semana e o final de semana, ocupados por trabalhos da faculdade, planos de aula da escolinha, e um pequeno tempo de lazer com minha amada.

Continua....

Dx
Enviado por Dx em 28/03/2008
Reeditado em 21/06/2008
Código do texto: T920441
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