E em minha casa, livre e altivamente, entra como dona

"E em minha casa, livre e altivamente, entra como dona" (Nekrassóv)

Como conseguistes entrar em minha vida, tempestade abençoada, e causar tamanho alvoroço? Fazes idéia das noites sem dormir, totalmente absorvido por meus pensamentos, pensamentos estes onde só você é a atriz principal? E porque será que, diante destes pensamentos, dessas minhas divagações amorosas, sempre vislumbro um sorriso nos meus lábios?

É tudo tão novo para mim. Este sentimento que acelera as batidas incessantes do meu peito, que faz tremer meus lábios, que faz acender a chama do meu desejo, este sentimento eu nunca senti. Pergunte-me se eu já quis entregar-me totalmente a alguém, se eu já quis possuir a alma e o corpo de outra desta maneira, e eu responderei que não, que nunca tamanha emoção tocou-me tão profundamente a ponto de me fazer mudar de rumo, de tomar a direção do leme em vez de deixar-me levar pela correnteza.

A minha vida agora é um festival constante. A beleza se transfigura diante de mim. O que antes me parecia ridículo, agora me faz chorar. A pequenez das pequenas coisas - pequenos gestos, pequenas palavras, pequenos olhares diáfanos - são para mim como o farol que desponta ao longe, minha salvação para a cegueira da alma, ponto de referência para que eu não me perca absorto em inutilidades e superficialidades que extasiam durante um tempo, contudo, destroem.

Eu canto o silêncio, eu canto o mar que quebra na praia, eu canto a mais sentimentalóide canção de amor. Eu visto-me de palhaço, pulo o muro da vizinha, dou de comer aos pombos da praça. Faço tudo isso sem medo ou pudor, porque estou amando, e quando se ama nos tornamos um tanto quanto imbecis.

Você tem as chaves da minha casa - do meu coração - entre e fique à vontade. Mude tudo de lugar, arrume esta bagunça. Embale-me. Beije-me. Sorva-me. Deixe-me cansado pela volúpia do amor, mas não pare a música.