O QUE O TEMPO NÃO APAGA

(para a Fernanda Moncks, a jornalista da família)

Há pouco, num laivo de lembrança daquilo que nos é raiz e fonte, lia com atenção os dados de Jorge (George) Monck ou Monk, o nosso ancestral mais ilustre, o qual propiciou a obtenção, com suas ações militares e políticas, do bastião nobiliárquico familiar, em 1615.

Nobiliarquia que se extingue no século seguinte, porque o seu filho – que foi governador da Jamaica – não deixou filho varão, a descendência necessária para a perpetuação do brasão de nobreza.

Os Moncks que rumaram da Inglaterra para o Brasil, em 1836, segundo o registro geral do Reino Unido, e que chegam ao Rio Grande por volta de 1841, na plenitude do enfrentamento em armas da Província do Rio Grande contra o Império do Brasil, durante a Revolução Farroupilha, são camponeses que vinham tentar a sorte. Aqui acabaram atuando como lenhadores, derrubando árvores nativas e colhendo lenha para o beneficiamento das carnes e dejetos das charquedas e dos matadouros, produzindo sebo, graxa e banha.

Segundo informam dados imprecisos sobre “Os ingleses em Pelotas”, artigo publicado pelo Dr. Waldemar Coufal, provedor da Santa Casa, no Diário Popular local, na década de 1950, chegaram sete famílias. O que tenho de memória contada e ouvida é que usavam os sobrenomes Sinott, Stone, Ward, Anderson, Laks ou Yacks, Yeats (não confirmado) e os Moncks. Durante anos, na década de 70, tentei confirmar esta informação, mas não a pude encontrar. Ainda busco dados para confirmar a autenticidade da informação.

O Império do Brasil abrira a sua política imigratória tentando cativar os europeus, e estes atenderam ao chamado do Novo Mundo. Afinal, a Coroa brasileira havia recebido do Reino Unido o primeiro empréstimo em libras esterlinas logo após a proclamação da Independência. E o Barão de Mauá (1813-1889), gaúcho do arroio Grande/RS, influente capitalista, era amigo da Coroa inglesa e tirava proveito pros seus negócios e para o nascente império.

Um pouco antes, em 1824, haviam chegado ao RS os imigrantes alemães na região do Vale do Rio dos Sinos (onde hoje estão os municípios de São Leopoldo, Estância Velha, Portão), com destino a fazer com que viesse a dar lucro a Feitoria do Linho e Cânhamo, transportando a produção para Porto Alegre. Esta havia sido criada em 1783 (política externa do Marquês de Pombal, primeiro-ministro do Império de Portugal) e foi transferida, em 1788, por causa da pouca fertilidade do solo, das margens da Lagoa dos Patos, na chamada Costa Doce, limítrofe com a área dos hoje municípios de Canguçu, Pelotas e Turuçu, com acato do que relata o respeitado historiador Cláudio Moreira Bento, natural de Canguçu.

Segundo o Registro Geral do Reino Unido (a teor de pesquisa de Francisca Monks Cazarolli na Inglaterra em 1985), os ingleses se estabeleceram no lugar hoje referido como a “Represa dos Sinotti”, perto do Monte Bonito, no interior de Pelotas. O sobrenome original era Sinott, mas os erros cartoriais italianizaram o sobrenome do clã inglês.

Os Moncks, chegados ao Brasil, no Rio ou em São Paulo, dividiram-se em dois grupos. Um teria ido para a Argentina, provavelmente para Buenos Aires, o outro se estabeleceu em Pelotas. Tenho notícia de uma figura ilustre, na poesia argentina, que residiu por muitos anos em Buenos Aires, cujo nome é G.R. Monk, autor de um lapidar poemeto: “El amor es solo la piel contra la piel”. Na década de 80 circulavam, no Brasil, vários pôsteres com este poema.

Lembrei-me de que precisava passar as batatas colhidas no solo antigo para quem tivesse, de ofício, a missão de registrar atos e fatos, por jornalista profissional.

Estava devendo algo de minha lavra a título de memórias - o nosso presente para o teu álbum de formatura, mesmo que com atraso de quase dois anos. Agora, com a tua estada por mais de seis meses em Londres, talvez tenhas trazido dados para serem cotejados. Estarei no aguardo.

Beijos e abraços de teu tio JM.

DADOS NOBILIÁRQUICOS DA FAMÍLIA MONK ou MONCK

(OS MONKS ou MONCKS)

Monk ou Monck, Jorge, 1º Duque de Albemarle. General Inglês, nascido em Potheridge (Devonshire), em 1608. Filho de um simples gentilhomem camponês, serviu na expedição inglesa contra Cadix (1625), e tomou parte, em 1627, na que Buckingham dirigiu contra a Ilha de Ré. Em 1629, entrou ao serviço da Holanda. De retorno à Inglaterra (1639), pensava em partir para Madagascar, quando foi retido pelas perturbações da Escócia. Em 1640, passava à Irlanda e obtinha vários triunfos sobre os irlandeses revoltados. Em 1643, regressou à Inglaterra e conservou-se fiel ao rei. Feito prisioneiro pelo exército parlamentar em 1644, foi encerrado durante dois anos na Torre de Londres. Posto em liberdade em 1646, passou em breve para o serviço do Parlamento e comprometeu-se a combater fielmente por ele na Irlanda. Em 1647, foi nomeado governador do Ulster, e apoderou-se de várias fortalezas; mas, em 1649, viu-se obrigado a assinar um tratado de paz e regressou à Inglaterra para justificar o seu proceder no Parlamento. Em 1650, tomou uma parte brilhante na vitória de Dunbar, e ficou comandante-em-chefe das tropas parlamentares na Escócia quando Cromwell foi obrigado a regressar à Inglaterra para expulsar Carlos II Stuart. Em 1652, foi um dos três comandantes da armada inglesa e obteve três grandes vitórias sobre a armada holandesa. Em 1654, retomou o comando do exército da Escócia; conseguiu pacificar o país e adquiriu uma grande popularidade. Por morte de Oliveiros Cromwell (1658), reconheceu Ricardo como Protector; mas, depois da abdicação deste, explorou o descontentamento do exército contra o Parlamento, e decidiu-se a passar à Inglaterra à frente dos seus regimentos. Dirigiu declarações conciliadoras à nação e às igrejas, e, ao mesmo tempo em que prometia sustentar a república, entrava em relações com Carlos II. Impôs-lhe como condições uma anistia geral e a tolerância religiosa. Carlos fez então a declaração de Breda (maio de 1660) e enviou-a a Monk, com o título de capitão-general. O Parlamento, dominado por Monk, votou o restabelecimento da realeza. Monk foi receber Carlos II em Dover. Obteve em recompensa a Ordem da Jarreteira, e foi elevado ao pariato com o título de Duque de Albemarle e uma avultada pensão. Em 1661, foi feito lorde lugar-tenente da Irlanda, mas resignou as suas funções no mesmo ano. Combateu novamente, em 1666, na guerra da Holanda; mas, em 1667, retirou-se da vida pública. Faleceu em Newhall (Essex) em 1670.

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No texto, atualizada a linguagem por Joaquim Luiz dos Santos Moncks, oficial de polícia militar, político, advogado, poeta e ativista cultural. Porto Alegre, 21 de julho de 2004.

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Fonte: Encyclopedia e Diccionario Internacional W. M. Jackson, Inc. - Editores, Rio de Janeiro e Nova York, s/ data. (1920?)

O BRASÃO DA FAMÍLIA MONK ou MONCK:

Considerando que “John Monk” de “Hurston”, sendo o quinto “John” daquele sobrenome, em descendência direta de “Richard Monk” de “Ashington”, do condado de “Sussex” ... (cuja casa e terra ele possuiu), teve desde longo tempo por tradição, as armas da respeitável família dos “Monk” de “Devonshire”, que são: uma simples divisa entre três cabeças de leões gravadas em prata; como não sabendo se ele ou eles descenderam do outro e, portanto, sendo muito desejável para evitar questão, requereu a mim, “Witt’m Segar Garter”, o principal rei de armas (a quem a correção de armas pertenceu). Como correto lego, confirmo e atribuo ao dito “John Monk” e sua descendência, as citadas armas assim caracterizadas e variadas, e que ele e eles podem legalmente sustentar as mesmas sem erro ou prejuízo à citada família dos “Monk” de “Devon”, ou qualquer outra pessoa e que de acordo com o seu pedido eu atendi e dei garantia em modo e forma conforme segue: Prata, uma divisa simples, depois, três “besants” entre três cabeças de leões gravados no segundo. E para a sua crista, sobre um elmo e grinalda de seu pescoço, uma cabeça de leão gravada simples, colorida, mechas douradas como acima ilustrado.

Tudo o que eu testemunho sob minha mão e escala de ofício em 10 de Novembro, Anno Domini 1615 – Ano Regni Regis Jacobi. Witmm Segar Garters.

– Tradução feita por João Geraldo Cazarolli, engenheiro agrônomo, esposo de Francisca Monks Cazarolli, (prima em segundo grau de Joaquim Luiz dos Santos Moncks) residentes na Rua Princesa Isabel, 47, em Pelotas, RS.

– Em 02 de dezembro de 1991, foi mandado lavrar, em aço inoxidável, com detalhes em cores, o brasão de família, pela Foto Gravações Aço Sul Ltda. – ME, sediada na rua Dr. Dias da Cruz, 62, bairro Medianeira, em Porto Alegre, RS. Conforme nota fiscal nº. 1098, série D-1, emitida na mesma data, o valor de encomenda importou em 70.000,00 (setenta mil cruzados novos). O salário mínimo nacional era de NCz$ 52.000,00. O preço de venda de US$ 1,00 (dólar americano) era de NCz$ 850,60 (cruzados novos). O custo da peça, portanto, foi de US$ 82,30, em dólares americanos. (JM).

– MONCKS, Joaquim. CONFESSIONÁRIO – Diálogos entre Prosa e Poesia. Porto Alegre: Alcance, 2008, p. 121:5.

http://www.recantodasletras.com.br/cartas/1038648