Maniqueísmo

Lendo-te o texto impecável, torno à reflexão a respeito da origem da frase sobre a inversão demoníaca de Deus. Trata-se de afirmação significante da essência do maniqueísmo, que não tem nenhum ponto de contato com a teodicéia original cristã, caracterizada pelo diálogo agostiniano e patrístico, em geral, que as filosofias dos primeiros séculos da Era Cristã.

Assim, o que entendi em teu discurso foi que a patrística pode ter usado essa frase para se referir à "teonoção" maniqueísta, em que o diabo e Deus são igualmente poderosos para o mal e para o bem, um sendo o inverso do outro, em eterna luta sem solução de continuidade - o tempo nesse contexto é circular, enquanto o conceito do tempo judaico-cristão é o de uma espiral com um sentido de seta, um fim, qual seja, a realização do Bem Supremo.

Inspira-me a noção do Deus Interior. Acredito que a teofania de Moisés está em suas origens: um Deus sem identidade que, ao ser indagado pelo profeta sobre seu nome, disse simplesmente: EU SOU (IAHWEH). No meio esotérico percebo um certo fundamentalismo em relação ao javismo - o EU SOU é tomado ao pé da letra e não se atenta aos caminhos e bifurcações que o javismo percorreu até desaguar na conformação daquele Deus Interior da cosmovisão gerada pelo Cristianismo. Visto que, para o judaismo, a abstração do divino - que não é nominável e não pode ser reduzida a uma expressão plástica concreta -, veio a ser derivada pelo Cristianismo, que fundiu Deus e Homem no Mistério da Encarnação e escadalizou os meios judaicos. Estes farejaram na Encarnação uma heresia de odor pagão.

No entanto, tendo assim minhas origens pagãs greco-romanas, meu Deus Interior é cultivado de forma específica e com absoluta consciência de que trata-se de uma conquista teológica do Cristianismo.

O Deus Interior oriental tem uma outra orientação, bem mais psicológica que este meu paradoxo abstrato-concretizável da divindade que assume a divinização da Humanidade ao Se lhe incorporar.