CARTA AO AMIGO TALIS.

Amigo Talis,

Estive em dois compromissos nas duas últimas semanas: o primeiro no INTERCOM (de 02 a 06/09) e o segundo, formando professores do ensino público estadual (de 08 a 15/09) – um na cidade do sol, o outro na cidade do sal e do petróleo. Por isso, a minha ausência em comentar seus escritos. Entretanto, como em todas as voltas há sempre surpresas a nos esperarem, voltei das duas viagens ansioso para que elas estivessem me esperando. Na segunda das voltas, estavam.
 
Surpresa boa, gratificante e em forma de versos, de dupla emoção. A leitura inicial do “pacote” já me fazia antever o prazer que iria sentir a seguir. Abri-lo, retirar do invólucro bem feito o livro “Cavalos da Miragem”, correr os olhos e me deparar com o nome de Talis de Andrade como sendo o autor, foi a primeira emoção - vieram à mente lembranças de uma promessa feita no C-se, pelo poeta, após um comentário desse humilde aprendiz. Ler, avidamente, as “orelhas” e me deparar com a grandiosa generosidade do escritor, me fazendo participar de sua obra, ao lado de ilustres parceiros de poesias, foi a segunda. Em desalinho de recordações, vi nos versos de “Os Fantasmas”, um pouco da minha saudade, prontamente externada em um comentário pautado por rabiscos emotivos.

E aí veio a generosidade maior do amigo, que não poupou sua arte para entregar em bandeja de prata, o fruto de seus enleios: “poeta é aquele que empresta seus versos para que seus leitores se apossem deles, e escrevam, nas entrelinhas, suas reflexões” (Raí). Assim fiz, assim me acostumei a fazer. Enlevos que passaram a fazer parte de uma rotina semanal: em cada verso uma leitura própria, muitas vezes sem pedir licença, mas certo de que o mote fora dado para que o alvará fosse abolido e a imaginação ousasse fazer parelha com a mente criativa de quem já sabia, de antemão, os caminhos dados para a sua interpretação.

Comecei a ler “Cavalos da Miragem” “engolindo” as páginas de cada verso. Não se preocupe Talis, é ansiedade natural de quem sente sede de desfrutar do que é bom e belo. Na segunda passagem, prometo me controlar. Farei como faz o sábio: beberei devagar, letra por letra, palavra por palavra, frases por frases...

Ah! E quando digo sobre a sua grandiosa generosidade, apenas aplaudo sua humildade em nos proporcionar, em “Cantada de Bar”, a regressão de momentos ímpares – que todos nós, rapazes boêmios e cheios de intempestividades, buscávamos no prazer mundano e leviano, a musa futura e profícua de versos envolventes: “... O amor descompromissado / nascido no vício... Amor sacana / devasso amor / Suspirado pelas mulheres na escuridão da cama... O amor bandido / clareado pelas luzes da pensão das horizontais / frias luzes azuis vermelhas / luzes frias e mortais / O obscuro...

A cena imaginária que desperta a melancolia é a prova de que, ao escreveres, já sabias, com absoluta certeza, o banzo que causarias. Eis aí, portanto, o mestre.

Obrigado, Talis, pelo carinho de sua amizade e pelo compromisso de sua palavra. Assim como a primeira impressão é a que fica (juro que não sei quem disse isso), o correr dos olhos em versos puros de enredos fáceis, que de tão fáceis se tornam histórias, nos revelam o poder sedutor de um jovem que aparenta, não cinqüenta anos, mas os quarenta anos que Urariano Mota profetizou, em meio à incredulidade de tê-lo imaginado, tudo menos “aquele senhor manso, de ar sereno”. “O poeta dos sentidos, o comentarista bem-humorado, o jovem louco como um franco-atirador?” – disse se interrogando, antes de conhecê-lo, Urariano. Talvez o que escrevestes te fez bravo. Não bravo de guerra. Mas bravo na luta pela liberdade de expressão. Juro que invejei, poeticamente, esse momento entre vocês! Um dia, talvez... Por enquanto, obrigado.

Com um abraço,
Raimundo Antonio.

 



Obs. Imagem que ilustra o poema "Quarto Canto Suicida para Narciso", do Livro "Cavalos da Miragem", da Editora Livro Rápido - Olinda/PE.
Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 28/09/2008
Reeditado em 04/02/2012
Código do texto: T1200811
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