Carta De Despedida

Cabo Frio, 23 de setembro de 2008

Para o nada. Para ninguém.

É difícil se livrar das garras da boa vida da juventude e enfrentar o mundo. É incômodo ter que que começar a pensar em se livrar das asas dos pais e dar o passo para o desconhecido, ter que lidar com verdadeiros problemas do mundo real. O fim da escola representa isso. Acho que, a cima de tudo, o que nos causa mais dor não é o fato de que "nunca mais veremos aquelas pessoas com quem estudamos durante nossa vida inteira", mas o fato de que veremos novas pessoas, pessoas mais reais, pessoas que nunca vimos antes e que não sabemos de sua índole, pessoas que nos fazem olhar para nós mesmos e nos fazem entender quem somos e o que estamos fazendo/devemos fazer aqui.

Não acho que comigo seja diferente. Aproveitei plenamente de todas as oportunidades que apareceram em minha frente, juntei bastante experiência e histórias-para-contar, tive as mesmas dúvidas infernais de todo jovem que preza ter uma carreira próspera, a mesma "pressão familiar", a mesma vontade de querer voltar ao passado e me esconder em algum brinquedo do parquinho da pré-escola e ficar lá, torcendo para o tempo não me achar.

A incerteza do futuro é grande demais, nos faz querer olhar constantemente para o passado e ficar por lá, não enfrentar o presente. Ao mesmo tempo é confortante pensar dez anos a frente e imaginar o que quiser. Saber que tenho o poder de modificá-lo. Vejo-me em um apartamento simples, só, com muitos livros espalhados em estantes empoeiradas e comida congelada na geladeira. Vejo-me me um casarão, com cinco cachorros correndo pelo quintal, crianças por toda a parte (minhas ou não). Vejo-me em países diferentes, a mala sempre feita para pegar o avião constantemente. Vejo-me completa. Com orgulho de qualquer coisa que tenha feito, sem arrependimentos e o passado sendo um bom lugar para fugir de vez em quando e sorrir.

Perdoe-me a não-seqüência caótica de pensamentos que lhe apresento minha saída do mundo idealizado, pois há muito estive esperando por essa despedida. E agora que ela ocorre, parece-me difícil e doloroso seguir em frente.

Aguardando o mundo real,

J. M. S. Souza

Júlia Schneider
Enviado por Júlia Schneider em 01/10/2008
Reeditado em 12/03/2013
Código do texto: T1206530
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