Brasília, dia 13 de outubro de 2008.

Prezados Bravos Caminhantes,

Muito se tem caminhado por aqui nesses últimos dias. E ainda há um tanto a caminhar. Muito se deixou de ganhar, mas muito se ganhou. Caminhar é muito mais do que bater pernas. Caminhar é ver e valorizar as coisas mais simples, que são as mais belas. As estradas por onde se passam podem levar ao mar, ou ao fim... podem ter pequenas e doces frutas ou mesmo flores de primavera. O que importa é pagar para ver, se surpreender, deixar se levar pelas diversas possibilidades. No meio caminho: flores, sóis, pedras, cercas, calos, águas, estradas, entradas, noites serenas, noites angustiantes.

Ninguém sabe em qual esquina vai dar esse caminho... Caminhar é perceber quantas bolhas vamos ter que superar para chegar numa casa para pedir água, quando esta faltar; quantas noites mal dormidas vamos ter que agüentar para conseguir passar num vestibular; quanto tempo vamos ter que resistir para matar a fome; quantos ‘não’ receberemos para conquistar um verdadeiro amor. A estrada é mais longa do que se vê.

Caminhar é perseguir horizontes infindáveis, fincar bandeiras em lugares desconhecidos, ver coisas que todas as pessoas já tinham vistos, e principalmente mudar de idéias, mas sem jamais perder a essência. Nossas escolhas dependem do momento em que vivemos, do que se passou e do que ainda virá. Escolhas certas implicam em momentos diletos da nossa alma.

O mundo é grande e caminhar aproxima as pessoas.

Sabe quando achamos que não temos mais nenhuma força, os joelhos doem, os pés doem e as dores das pernas se fazem impossíveis, e chega uma pessoa e pega na sua mão, e os dois vão juntos aonde há que chegar? Bem, essa é a crônica da vida. Quem espera sentado as coisas que quer, dificilmente as terá.

O suor que desce dos poros dessa máquina chamada corpo é só mais um pedaço da gente que se foi... mas que voltará renovado e revigorado. A cada passo um momento que se foi e não voltará mais...

Mas o mais importante é caminhar dentro da imensidão de nós mesmos. Se descobrir, se permitir, se dar ao que tem que se feito.

Os limites foram feitos para serem superados, pois se assim não fossem, não se chamariam limites, mas sim infinitos. Somos humanos e temos limites.
De tal modo, a palavra limite muito se assemelha com a palavra limiar; começar. Superar um limite realmente é começar uma nova fase, em que teremos mais capacidade para fazer as escolhas certas, na hora certa.

O mundo é grande e caminhar aproxima as pessoas.

Talvez o caminhar seja mais uma acepção do conceito de vida, em seu sentido mais perfeito, puro e verdadeiro possível.

Desistir não é só deixar caminhar, mas perder uma oportunidade de se conhecer, de perceber que tudo que vale a pena nessa vida é conquistado com muito suor; e que desistir, na maioria das vezes, é a parte mais fácil dessa caminhada. Como já dizia Fernando Pessoa: “tudo vale a pena se a alma não é pequena”.
Ufa! Quanta coisa escrita, hein, bravos caminhantes, sertanejos de Guimarães Rosa, caçadores de si, desbravadores do Brasil?

Bem, vocês devem estar exaustos depois de mais um dia de caminhada, não vou me alongar tanto. Mas deixo para vocês uma pequena parte do meu poema preferido: “Fruta Aberta” de Thiago de Mello:

“(...) Grandes coisas simples aprendi contigo,
com o teu parentesco com os mitos mais terrestres,
com as espigas douradas no vento,
com as chuvas de verão
e com as linhas da minha mão.
Contigo aprendi
que o amor reparte
mas sobretudo acrescenta,
e a cada instante mais aprendo
com o teu jeito de andar pela cidade
como se caminhasses de mãos dadas com o ar,
com o teu gosto de erva molhada,
com a luz dos teus dentes,
tuas delicadezas secretas,
a alegria do teu amor maravilhado,
e com a tua voz radiosa
que sai da tua boca
inesperada como um arco-íris
partindo ao meio e unindo os extremos da vida,
e mostrando a verdade
como uma fruta aberta.”

E trago também a última estrofe do poema “Ensaio Sobre a Paixão” de minha autoria:

“(...) Perceberemos que ficar na frente do espelho
é saber quem gostaríamos de ser,
que ficar na frente de um livro
é saber quem podemos ser,
e que ficar diante dos nossos problemas
é saber quem realmente somos. (...)”

Os piores dias já se passaram. Agora vocês têm em suas mãos a chave para o desfecho triunfante. Aproveitem esses momentos como se fossem os últimos da caminhada, pois literalmente eles são; cada caminhada foi de um jeito, cada uma teve algo especial, e só nós vivemos essa, mais ninguém.

E para terminar, nada melhor que um forrozinho, neh!?

“Êê, para surdo ouvir, para cego ver,
que a caminhada faz milagre acontecer”

Sucesso a todos e aquele abraço, dia 18 estarei com vocês!

Aderruan de Marco.