Carta ao poeta Manoel de Barros

Rio, 8 de novembro de 2008

Caro poeta Manoel de Barros,

você, com todo respeito que me merece, até pelos 92 anos trazidos no bolso, cometeu um lapso, propositado ou não, ao dizer que jogou fora sua escova.

Como pode ter cometido tal atitude e suas palavras continuarem escovadinhas que nem novas? São mais limpinhas que os ossos daqueles moços, os tais arqueólogos.

Pra ser bem sincera, mas bem mesmo, confesso que sinto inveja dos poetas. Cada palavra que eles põem no mundo parece um pirilampo, piscando no escuro da casa de dentro da gente.

Não sei onde você leu que as palavras eram conchas de clamores antigos . São sim. O fascinante é a gente escovar cada uma até escutar o som escondido. Tem dias que não conseguimos esfregar direito. A escova não limpa ou ficamos meio surdos?

Eu gosto de imitar você. Inventar memórias Também sinto saudade do que não fui.. Você acha que o que faz agora é o que não pôde fazer na infância. Eu tenho certeza.

Ah! mas até que é bom esse jeito de curar saudade. Só vez em quando pro povo não pensar que a gente não bate bem.

Ô poeta, seus livros são a eternidade de suas memórias inventadas para todas as crianças e adultos do planeta terra.

Até breve, um dia a gente se encontra.

Anamaria Benevides