Carta a alguém que se faça "amigo"...

Caro alguém, sem nome, sem face...

Responda pra mim porquês tão sem fim. Responda pra mim tantos ondes jamais procurei. Responda os quandos que o relógio não aponta, nem o sol aponta. Responda como. Como pode tudo terminar assim.

Um dia veio a este mundo um tal de Messias, Nazareno talvez; prostrou-se frente a sua cruz e se deu em holocausto por nós. Que fizemos? Respeitamos? Quiçá entendemos?

Caro amigo sem nome, sem cor, sem raça, sem face... Noutro dia, veio cá conosco um negro, da África, príncipe... Lutou pela liberdade e acabou traído, massacrado, virou nada mais que lembrança e talvez um feriado. Quem o seguiu? Quem creu? Quem mudou?

Querido ser anônimo para quem eu escrevo esta carta, me diga: Na Índia, um outro tal, peregrino jejuador, corajoso, enfrentou exércitos britânicos, a fome, preconceitos... mais um mártir sem vitória viva. Quem o viu? Quem assim fez? E perpetuou?

Hoje o que resta dos homens não prega a paz de um passado nem tão longínquo assim. Invadem terras, tomam países, escravizam povos inteiros e se deitam com suas mulheres à força, à forca, à revelia da vontade alheia, maltratam.

Explodem bombas de hidrogênio, caçam baleias e destróem golfinhos. Queimam florestas, vendem drogas, inventam outras, não inventam curas, só fazem marketing.

E se ao menos você, sem nome, sem face, sem divindade, sem nada pudesse me dizer para onde ir. Não quero viver nesse mundo tão podre, onde o poder se faz aliado do mal, onde da água o que sobra é o sal... Não quero mais!

Mas também não quero a morte, não quero partir. Me ajude.

Me dê as respostas, caso as tenha. Me dê a saída, caso elas existam.

...e olha que você nem precisa me dizer seu nome, me mostrar teu rosto. Me dê o gosto de poder brilhar sob o sol, de pisar nas águas límpidas de um ribeirão. De ouvir canção de pássaros, de sentir perfume de flores. Diga que eu posso, pois, se disser... se disser com vontade, verdade e vontade e mais verdade, eu, na minha humildade, vou crer em ti... como cri, sempre.

No hoje e no amanhã. Na paz.

Rodrigo Augusto Fiedler
Enviado por Rodrigo Augusto Fiedler em 12/11/2008
Código do texto: T1278884