ZUMBI E O POVO BRASILEIRO

Estamos mais uma vez envolvidos na semana do 20 de Novembro. Dia que marca o “aniversário” da morte de Zumbi – do Quilombo dos Palmares – um guerreiro que representa a luta e resistência contra a opressão e exclusão vivenciada ontem e hoje pelos afros-descendentes. Este dia não é o “dia do negro” como muitos oposicionistas querem e insistem em afirmar. Pois se assim fosse, teríamos, é lógico, de termos um dia em comemoração ao “dia do branco”. Na verdade o que se reflete, ou aquilo que deveríamos refletir e pensar neste dia, é a Consciência Negra. E, Zumbi – o guerreiro – é aquilo que representa esta consciência. Uma consciência de luta; não armada, de busca por igualdades; de uma maior representatividade sócio-política-economica; de liberdade; de sonhos e realizações; de mais acesso; de inclusão e de tantas outras coisas mais.

O dia 20 não é somente uma comemoração a memória do Zumbi – o negro da resistência – é o dia de todos os negros resistentes a este modelo da falsa “harmonia social”. Isto inclui a minha mãe, minha avó, minha família como um todo. Inclui todos do “mocambo” nesta luta. A luta maior é pela DESMISTIFICAÇÃO daquilo que a história oficial apregoa sobre o tipo de relações étnicas desenvolvidas no Brasil, como sendo uma escravidão pouco violenta e de resistências sem tanta importância. E que “diferentes grupos étnicos no Brasil existentes viveram e ainda vivem harmoniosamente diferentes da resistência dos outros paises.”

Como professor de História, sei que a única harmonia existente, era a dos açoites nos lombos dos negros e nos animais de cargas. Aliás, a igualdade entre animais de cargas e negro, era costumeira, pois a religião oficial da coroa em seus lindos e amados sermões, pregava que “Deus havia desprovido o negro de alma”.

As reverências que se faz neste dia devem incluir também um cerimonial ao “Deus-negro”, pois foi Ele quem livrou os meus antepassados dos açoites e não o “Deus europeizado” de olhos claros e de cabelos lisos.

O Deus europeu armou os brancos de ganância para a conquista do novo mundo. O Deus negro “sincretizou” e ensinou que a feijoada se come com arroz... e que a roupa branca veste o negro da capoeira.

[...] Não gosto muito da frase: “mito-da-democracia-racial”, por isto preferir: o mito da harmonia social, por entender que somos uma única raça, somos de povos e etnias diferentes... uma única raça, esta deve ser a consciência.

A própria inclusão do negro em alguns modelos de políticas públicas inclusivas, já significa a exclusão da maior parte deles, por mais bem intencionada que seja a proposta.

Este dia 20 não pode ser exclusivista da luta do negro. É o dia de conscientizarmos também o “nordestino”; o “favelizado”; a mulher; o idoso; o aposentado; o latino; os palestinos; é o dia de lembrarmos do “holocausto”; dos aborígines; dos nativos (espanhóis e portugueses). É o dia da consciência de todos estes citados e tantos outros mais esquecidos, não por mim nesta epístola, mas pela a sociedade excludente.

Neste ano de 2008, que marca o início de uma nova era mundial ou uma era mundial nova, onde a maior nação do mundo em termos de economia e poderio, escolhe como representante maior, um negro. Temos que realmente afirmarmos a nossa identidade através da nossa consciência.

É hora de afirmação!

Afirmação daquilo que somos, NEGRO, NORDESTINO, LATINO, MULHER, IDOSO.

NÃO podemos ser aquilo que querem que sejamos.

Afirmação dos nossos direitos, e não daquilo que querem nos dar. Afirmação da nossa HISTÓRIA, e não aquela falácia que nos ensinaram nas escolas.

O Zumbi representa o povo brasileiro. Zumbi na verdade, é a cara do brasileiro!

Guerreiro, lutador, não desistente. Que acorda as cinco e meia da manhã. Que sobe e desce os morros. Que anda descalço pelas vielas escondidas nos grandes centros urbanos. Que enfrenta o trem lotado. Que procura uma promoção no mercado perto de casa. Que coleciona carnês das lojas de eletro-moveis e faz de tudo para cumprir com estas obrigações, pois sabe que o seu nome é o seu maior bem. Que cata latinha, que lava vidro de carro bonito no sinal fechado, que corta grama do quintal de gente rica, que arruma a casa e passa a roupa do Doutor. Que empresta ao vizinho aquilo que tem e o que não tem, que come o churrasco da esquina. Que chega no barraco, assiste a novela das 21:00, prepara o feijão para os moleques comerem no dia seguinte e vai descansar, pois amanhã começa tudo de novo.

Zumbi representa isto. O brasileiro que morre por uma causa, POR UM IDEAL DE VIDA, por uma liberdade efetiva. Nada melhor que Zumbi para representar essa trajetória de lutas, perdas, vitórias e conquistas, não só do negro, mas, também do povo brasileiro, por sermos um povo miscigenado e termos como herança nosso jeito guerreiro de ser.

pense Filoliveira..

filoliveira
Enviado por filoliveira em 15/11/2008
Reeditado em 20/11/2014
Código do texto: T1284603
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.