carta de um drogado

Oi, pai!

Como vai o senhor?

Sei que não anda legal, por minha causa.

Estou escrevendo essa carta deitado em uma cama de hospital.

Dói muito, em saber que não vou viver muito tempo.

Dói muito, em saber que fiz muitas pessoas sofrerem.

Dói muito, tudo isso.

Poxa, pai! Como sofro com esse vírus maligno.

Realmente AIDS mata, eu não acreditava muito.

Pai, estou escrevendo essa carta chorando muito.

Se as lágrimas borrarem a tinta, desculpe-me.

Pai, estou fraco.

Eu não parei com a química quando o senhor pediu.

Quantas vezes batia no pai para ter a química.

A química.

A maldita química.

Pai, me desculpa... me desculpa mesmo, pai.

Pai, eu te amo muito.

Que saudades da mãe; ainda bem que ela não viu seu filho crescer.

Hoje ela também estaria sofrendo.

Pai, hoje tomei sopa, igual àquela que o senhor fazia quando eu era pequeno.

Pai, novamente peço desculpas.

Como dói... dói muito.

Pai, hoje vendo o céu estrelado, tive uma visão.

Alguém havia me perdoado, agarrou minha mão e me protegeu.

Prometi a ela que não usaria mais a química. Ela sorriu.

Quando acordei da visão, percebi que hoje era minha hora.

Hoje eu teria o último contato com o senhor.

Através da carta.

Pai!... Meu amado e querido. Pai.

Me desculpe novamente.

Sei que estou sendo chato.

Mas me desculpe.

Hoje quando chegar no meu novo lar, cuidarei da mãe para o senhor.

Sei que lá não existe a química.

A maldita química.

Pai, já estou sem força para escrever.

Deus te abençoe.

Reza por minha alma.

Pai!...Pai!... Me desculpe novamente, pela a dor que causei.

Pai, te amo! Eu...

“ nesse momento a caneta cai da sua mão, a carta fica sobre seu peito, seus olhos se fecham e ele solta o seu último respiro”.

mensageirojc
Enviado por mensageirojc em 26/03/2006
Reeditado em 28/03/2006
Código do texto: T128955