BREVE RESPOSTA AO EDMAR

Edmar,

Bem escondido no fundo da gaveta não tinha 10 mil como você disse, tinha 13 mil e pouco e esse pouco era quinhentos e vinte reais. Oba, 13520 reais!

Peguei seu novo endereço com a xexelenta da sua prima que diz que é bibliotecária, mas nunca exerceu; vive é de armação pra cima dos outros. Quando você era solteiro, lembra que ela lhe cobrava dez cruzeiros, um Getúlio, por uma masturbação? Você que me contou.

Puxa, Edmar, vinte anos de casamento merecia uma carta mais longa de sua parte, mas você é assim mesmo... caladão e escreve pouco.

Prova que eu dei pro Raul, prova! Não dei. Homem adora chamar mulher de vagabunda. Vagabunda é a sua mãe, aquela velha esclerosada.

Passaram-se 3 meses: graças a Deus, fiquei livre dos seus peidos pela casa toda. Até o cachorro não aguentava mais.

A coleção de selos está aqui, manda apanhar. Suas roupas também.

Vinte anos... é desgastante, concordo com você; ainda mais nesse apartamentinho de quarto e sala no subúrbio, onde todo mundo sabe da vida de todo mundo.

Seu carro está com o pneu arriado e com as prestações atrasadas. A financeira vai levá-lo.

Onde arrumou dinheiro pra viajar dessa maneira, avião pra lá e pra cá?

Quando vai dar entrada nos papéis? Quero o preto no branco.

A sirigaita do 208 tem perguntado por você.

Carta breve, resposta breve... É isto que faço: olho por olho, dente por dente.

Edmar Cordeiro Alves da Costa Sanches, agora preciso sair, estou com pressa e quero, de coração, que você vá pros quintos dos infernos.

Ainda bem que não tivemos filhos.

Rio, março de 2008

Edmila Oliveira Prado da Costa Sanches

Elysio Lugarinho Netto
Enviado por Elysio Lugarinho Netto em 22/11/2008
Reeditado em 02/01/2010
Código do texto: T1297696
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