Sou poeta

Eu teço versos como quem arma uma arapuca, pego o que vier e o desnudo entre as linhas. Cada palavra traduz um sentimento bruto, e eu, habilidosa artesã, transformo-a em poesia autêntica, cartas viscerais, melodia que varia de acordo com meu humor. Às vezes me canso com o trabalho de esculpir, principalmente quando a pedra se quebra e tudo se transforma em pó. Felizmente deste pó emana uma chama etérea, e se junta a fogueira que nunca se apaga. Mesmo quando o fogo chega às alturas ou quando ele não passa de uma brasa, eu escuto o crepitar.

Os meus versos são como água de enchente, tanta lama torna difícil o ato de enxergar, de ver o que há por dentro. Mas o sol nasce para todos, e em alguns deles pode sentir-se a quentura de um abraço, o carinho dado pelo beijo da mãe, pode ouvir-se a harmonia das vozes cantando a mais bela canção de esperança.

Sou ditosa ou amaldiçoada? Mereço o Tártaro ou os Campos Elísios? Isso eu não sei, mas tenho certeza de uma coisa: eu edifico versos, eu componho emoções, faço até o mais insensível coração chorar. Sou poeta.