A grande dor do amor

Agora eu sei o que é sofrer por amor. Sempre fugi disto, como o diabo da cruz, mas acertaram meu calcanhar e eu caí. Devo confessar que não estou gostando nada disso. Sabe aquela sensação amarga que se sente ao acordar feliz para andar de bicicleta e descobrir que não vai poder porque está chovendo? Desculpe minha analogia pueril e quase patética, mas não consegui pensar em algo melhor. Talvez a dor que estou sentindo esteja turvando meu raciocínio ou talvez eu seja somente uma idiota. Fico inclinada a acreditar na segunda opção, pois não há nada mais imbecil do que gostar de quem não gosta de mim. Sofrer, então, chega a ser um despautério. Já não tenho mais dinheiro, estou fumando como uma chaminé e bebendo como um boêmio. As minhas noites têm sido compridas e monótonas, cheias de lamentos. Tenho me tornado repetitiva quando escrevo, sempre o mesmo assunto, o mesmo motivo, a mesma dor. Minha inspiração naufragou na última dose de conhaque. Evaporou na última tragada do meu cigarro.

Já passa da meia-noite e eu ainda permaneço acordada. Vai ser uma madrugada azeda, exatamente como meu humor. Quando será que esta merda vai acabar? Desculpem-me pela palavra de baixo calão, mas acho que posso me dar ao luxo de descer a ladeira e refestelar-me na lama. Conto os dias. Quando estiver livre deste calvário provavelmente soltarei fogos de artifício, tamanho o peso que tirarei das costas. Por enquanto vou andando encurvada, chorando e lamentando como uma velha que perdeu o que considerava seu bem mais precioso: a juventude. Quando tudo passar darei boas risadas e terei a impressão de que tudo que escrevi nestas linhas é por demais pegajoso, brega e odiosamente sentimental. Mas, por enquanto, é tudo que meu coração sente e transmite. Deixai-me extravasar toda minha pieguice, pois amanhã é outro dia. Então, quem sabe, riremos juntos.