Mulher ideal

Acopiara, 21 de julho de 2004.

Aurélia,

No vazio do meu quarto eu sempre sonhava. Como sonhava! Passava horas entre quatro paredes, viajando por quatro mil sonhos. Sonhos grandinhos que tinham pressa de realidade, sonhos de criança, largados no infinito. Tive sonhos loucos e sensatos. O que mais me seduzia, porém, era sonhar com a mulher ideal.

Eu pensava tanto em seus abraços, em seus beijos. Imaginava como seriam suas fantasias, suas decisões, seus atos, enfim.

Esses eram os momentos mais fantásticos da minha vida. Sonhar... sonhar com uma mulher, que mesmo sem conhecer, eu tinha certeza, era a dona de todo o amor que eu cultivava em mim.

Passei a procurar essa musa ilustrava meus sonhos na realidade que assolava o meu peito. Procurei-a nas festas, nas avenidas, nos recantos mais insólitos da cidade. Encontrei mulheres bonitas, interessantes, que mexiam com meu corpo, enquanto minha alma clamava por desejo e meu coração batia sem amor. Foram várias mulheres, mas nenhuma delas era a minha musa, a diva que habitava os meus sonhos. A dona do meu coração.

Fui encontrando outras mulheres e sofrendo outras decepções. Aos poucos meu sonho foi se apagando e a musa perfeita se desvanecendo com a imperfeição do amor.

Eu não cantava mais. Não sorria mais. Eu não sonhava mais. Cantar pra quê? Se a única canção que eu sabia era o pulsar incerto do meu coração? Coração. Ah! Coração! Pulsava por necessidade e chorava sem amor.

Sorrir pra quê? Se meus olhos não viam aquela mulher? Se meu corpo não tocava o seu? Se meus lábios não podiam beijá-la? Se todas as vezes que sonhei na primavera, meus sonhos caíram no outono? Se eu pensava em tocar as estrelas com ela e tropeçava em grãos de areia sozinho?

Sonhar: eis o meu erro. Resolvi que não mais o cometeria. A tal musa, a mulher ideal, era um sonho. Isso! Apenas um sonho. Eu decidi que seria melhor uma mulher que remasse nos rios da realidade do que uma musa que estava à deriva nos mares da ilusão.

O tempo foi passando, meus sonhos foram passando, as mulheres foram passando. Só um grande vazio ainda permanecia no meu peito. Esse não passava de jeito nenhum. A cada mulher que eu beijava, ele aumentava mais. A falta de amor era a culpada pelo excesso de solidão.

Até que em um certo dia encontrei a cura para todas essas lamentações. Uma linda mulher, vestida de branco, iluminando uma noite sombria. Seus olhos brilhavam tanto quanto os olhos da mulher ideal. Seus cabelos eram sedosos como os cabelos da mulher ideal. Seu beijo... ah! Seu beijo! Era o mais ardente e gostoso que eu havia provado. Tão semelhante ao beijo da mulher ideal.

Ela era a mulher ideal. A musa que eu havia procurado. Meu amor. Meu grande amor. A dona dos meus delírios, dos meus beijos, dos meus sonhos. A dona do meu coração.

Aquele vazio do meu peito, lembra? Pois é, finalmente ele passou. Ao ver o tamanho do amor que brotava em meu coração, ele desistiu de se hospedar em mim. Fez suas malas. Juntou meu pranto, minhas tristezas, minhas desilusões e foi embora. Agora, em meu coração, só há espaço para o amor. Amor, amor... somente amor.

Voltei a cantar, a sorrir, a sonhar. Voltei a ser feliz. Só que essa felicidade que navega em mim é bem maior. É bem melhor. Antes eu era feliz pelo simples fato de sonhar com a mulher ideal. Hoje eu transbordo de alegria por poder abraçar, beijar... por poder amar essa mulher. E, também, por poder gritar pra todo mundo ouvir que essa musa que habita meu coração, essa deusa que derramou sua pureza sobre mim, essa mulher ideal que eu tanto amo e sempre vou amar, é você!

João Paulo Gaspar

O homem mais apaixonado deste mundo!!!