O que é desonestidade...

Minha Querida,

Sinto-me forçado a tecer-lhes estas linhas em resposta aos seus questionamentos e dúvidas quanto à minha conduta em relação a nós dois. A principio, preciso esclarecê-la que a “desonestidade” ao qual você me atribuiu nessa conjuntura toda é uma palavra ferina, atribuída não em casos de leviandade de atitudes, mas, sobretudo, em leviandade de sentimentos. Não procuro com esta reposta, justificar-me ou coisa parecida, pois acredito que nada que eu diga mais possa mudar-lhe suas concepções acerca das impressões que tivera diante do que aconteceu... Tenho a mais plena certeza de que minha consciência está extremamente tranqüila e que agi com a mais pura das intenções... Até porque fiquei chateado da mesma forma...

Muitas das vezes, buscamos solucionar pela displicência todos os nossos problemas, inclusive os mais complexos... Isto é um ledo engano... Devemos tratar nossos percalços unicamente com a vestimenta da humildade e, através disto reconhecer nossas limitações em relação ao próximo (já que não podemos interpelar nem obrigar ninguém a pensar sob nossa ótica)...

Reduzir-se ao lugar comum todos nossos sentimentos por meio de um perjúrio pode vir a ser um contra-senso perigoso, pois aquinhoar e delegar sobre outros questões de mérito infundado tem até sua perspectiva inicial, dada sua imprevisibilidade benéfica ou não, entretanto, pode refletir exatamente nossas próprias aspirações e anseios frustrados e não realizados...

Isto ocorre toda vez que buscamos nas outras pessoas as realizações que não alcançamos nesta vida... No pai que exige do filho sua ascensão social a qualquer custo, na mãe que superprotege sua prole diante dos desafios desta vida, nas autoridades que usam de seu poder para prejudicar a outrem...

Atribuir o perjúrio de "desonesto" pressupõe, antes de tudo, relegar um receio injustificado de aceitar-se como ser humano que somos sujeito às mesmas mazelas e bem-aventuranças tão inatas a mim quanto a você... A “desonestidade” que você me delega não se avalia apenas pelo meu suposto deslize cometido tão pouco do que se pode arrogar como pelo que consideras "falta de caráter" nas entrelinhas, em vista da resolução de questões onde sei que a inconseqüência ganharia destaque...

Ademais, acredito que o ímpeto de querer provar o quanto sua presença tem me feito feliz independe e isso sempre independeu de valores monetários... Reitero que fiquei tão triste quanto você, pois em meu cerne havia comprado um presente que detinha as qualidades que procurava e não seria meramente um preço qualquer expresso em moeda que me impediria de ratificar através de um símbolo o começo de toda nossa curta história juntos...

Assim, antes de fazer quaisquer pré-julgamentos que possam se arvorar levianos sobre minhas atitudes passadas e futuras perceba-se pela temperança e mansuetude das suas ações e das minhas que justificam meus atos e tudo que já demonstrei e escrevi dedicado a você. Perceba-se que a “desonestidade” imputada a minha pessoa nunca será verídica, pois não seria leviano o bastante de ratificar minhas posições e meus sentimentos em relação a você em vista de algo que não seria concreto.

Portanto, não cabe mais a mim justificar-se de atitudes que considero extremamente sinceras em relação a você, inclusive estas linhas, por uma suposta falha real na minha intenção de demonstrar meu afeto. Mesmo que mova céus para ratificar tudo isto me parece que seu pré-julgamento foi soberano... Assim, não me cabe mais nada a fazer a não ser que a espera perene da solução dos fatos de agora se justifiquem a seu tempo.

Um beijo

ad majora natus