Em pensamento, outra vez

Sentado àquela mesa eu vi teus lábios mexerem. Eles subiam e desciam, movimentavam-se num ritmo diferente de todos os outros lábios que eu vira até então. Na realidade, senti a tua beleza. Teu jeito mulher que tanto admiro. Parte do teu cabelo transcursava pelo rosto, teu olhar era nítido, aparentemente bem resolvido.... aparentemente. Notei que tu te aproximavas de mim através de verbos, mas naquele final de tarde, pela primeira vez, não consegui prestar muita atenção nas tuas frases. Estávamos em um lugar onde tantas outras pessoas freqüentavam. Queria ter apertado tua mão, queria ter sentido o calor do teu corpo através dos teus dedos, e sei que isso é possível porque já ocorrera antes. Entretanto, naquela conjuntura da vida, estávamos... Eu estava distante de ti, enquanto próximo. Eu estava te olhando, mirando teu encanto, e para cada movimento labial, cada expressão corporal e facial, uma nova lembrança tomava conta da minha mente e, por conseguinte, do meu corpo. Não conseguia fugir. Dentro de mim eu gritava, tomava-me por desespero, não podia misturar os momentos. Não podia fazer daquele simples encontro uma nostalgia romântica; eu teria esse direito? Não sei qual peça estava no tabuleiro. Posso afirmar que ainda te acho uma mulher sexy, atraente, envolvente, talentosa e principalmente inteligente; posso dizer que ainda devoto sentimentos mais do que verdadeiros e profundos pela tua essência; posso até ratificar o desejo de te-la como amante. E não importa o quão imperfeita sejas. A tua imperfeição e a minha pseudo-inteligência emocional abrigavam belas paisagens... Não há como esquecer. E por mais que eu tente, que eu lute, uma barreira mais alta e densa vem à tona. Por mais que eu tente me sentir bem sozinho, volta e meia sou assombrado. Alguém deve puxar meus pés à noite na cama. Mas quem? Por mais que eu tente desejar outras mulheres, ainda que de maneira carnal e temporária, não conseguiria se quer tocá-las. Porque a única mulher por quem sinto a intensa vontade de deixar marcas de sentido e razão através da minha matéria és tu. Sim, eu amo. Isso não é segredo para ninguém. Apesar de tudo, pelo paradoxo mental, me sinto mais maduro e auto-suficiente nessa etapa da minha vida. Apesar do desejo pela mulher que és, sinto-me feliz por ter a tua companhia e a tua confiança. Daqui a certo tempo podemos rumar para destinos opostos, mas algo ainda nos une. Algo faz com que eu escreva textos como este para ti. Algo faz com que nos encontremos na mais pura coincidência, algo faz com que eu, sentado àquela mesa, sinta e lembre de quão bela és... Pronto. Em pensamento tu me teve, outra vez.