Um paraíso fechado - sentimentos.

Um paraíso fechado. É isso a única coisa que consigo ver. Desatento, amargo ao espaço, e impaciente com minha própria inocência. Esse é o fruto do meu crescer, ainda que cresça sem mágoas, sem rumo, sempre ao norte. Dessa essência brava, dessa mistura do meu mister com o mister de precisar ser, é aqui que há pouco e significativo sentimento. Pacato, tímido, alheio... Ele vive, e desperta - a cada segundo - como o nascer do dia que nasce mas não desperta, pois está profundamente preocupado com a consolidação perfeita das cores do raiar, do arco-íris brilhante, cortado entre a chuva e o sol rebelde. Como esse arco-íris - que insurge nessa tempestade dinâmica -, é assim que sinto-me; sinto-me estando em cada acontecimento, ainda que viva em casa e não veja nada, porque eu sou também o que me dizem, o que me contam. Sou as experiências tristes do amor que não vingou, porque também ele eu vivi, também ele eu questionei, também ele eu deslumbrei quando podia, e também ele eu acusei, mesmo sendo réu da minha própria causa. Eu não vivo somente o que posso viver, mas o que os outros vivem, sentem, respiram. Sinto o vento que bate nas flores como se botassem em mim, porque também elas são parte da existência; são, elas, como eu quando sou menino, quando corro despercebido de tudo, quando cheiro a ausência de cheiro de um lugar, e a sinto magnífica, porque ela representa algo: houve ali uma história; viveu ali alguém, que, como eu, sentiu necessidade de falar um bocado de coisa, e, talvez, não disse nada; Talvez ele haja conseguido suportar uma dor inimaginável, e sequer foi corajoso o suficiente pra contar, por medo de algo, por falta de algo, pela necessidade de algo. Esse que não falou sou eu, e sou também o que falou quando devia se calar; sou a testemunha falsa do caso absurdo, porque, ainda que um monte de besteiras ou de desnecessidades, é preciso se falar; é preciso que o ar saia pela minha boca, ainda que sujo, como o das fábricas do amanhã. Sinto-me frio agora, caro amigo. Frio, não pela ausência de sentimentos em mim, mas frio pois o que em chamas vivia em mim, se foi; se foi nessas letras que preenchem essa pequena carta. Ouça-me, ria-me, não responda... Apenas teus olhos sobre o que sinto me fará sentir confortado. Obrigado.