CARTA A UMA AMIGA

Querida Loly,

Por aqui, as últimas notícias não são boas. A Marina afastou-se, por tempo indeterminado, da presidência da associação. Isso depois de receber um convite para trabalhar na ONG Gay rights, Califórnia- EUA. Só sei que a situação por lá ficou realmente difícil, depois da proposição 8. Mas, ainda assim, não concordei e continuo não concordando com esse afastamento repentino. Afinal de contas, aqui no Brasil casamento gay ainda é piada pra parlamentar se divertir. Sinceramente, não sei quando poderemos ser chamados de ci-vi-li-za-ção; temo pelo nunca.

Comigo e Sofia, enfim, está tudo bem, tivemos aquela crise, mas já passou. Acho que amadurecemos com o tempo em que estivemos separadas. Agora, tá melhor, tenho a minha vida, ela tem a dela e nós realmente torcemos pelo sucesso uma da outra. Antes, rolava uma competição velada, diria até que uma certa inveja. É, minha cara amiga, são esses os males do amor no feminino. Mas como já disse: Estamos resolvidíssimas.

Ah, você não vai acreditar! Nós finalmente conseguimos fechar a exposição da vida e obra da Frida Khalo. O nome será Caras e cores de Frida Khalo e começará em Novembro. Confesso, estar excitada com essa possibilidade. Você sabe que a minha vida é respirar poesia. E tem algo mais poético que “A coluna partida” ou “ “O suicídio de Doroty Hale”? Essas realmente são minhas preferidas, quer dizer acho que são. Não importa, o importante é que quero você venha conferir com seus próprios olhos. E no mais, será uma bela oportunidade de rever seus amigos brazucas. Então, o que me responde?

E quanto a esse coração? Nada disse na última carta! Como será que as francesas estão resistindo a esse belo par de olhos verdes, nesse um metro e setenta e cinco? Ou será que você ainda evita relacionamento de mais de três meses? Como conhecedora, desse espírito livre, aposto na segunda alternativa.

Por falar nisso, semana passada, encontrei uma foto nossa, da época em que namoramos. Foi uma que tiramos na janela daquele seu apartamento, em Niterói. Acho que nem vai lembrar, mas foi um dia em especial. Eu tinha 16 e você 18 ou 19. Foi a minha primeira vez com mulher, nossa quanto tempo se passou! Fiquei com saudade da nossa juventude e principalmente da nossa inocência que não volta mais.

Enfim, inocentes ou nem tanto, seguiremos em frente. Se quiser me ligar pode ligar de madrugada, ainda durmo muito tarde. A Sofia está te mandando um super beijo e pedindo pra você trazer a versão original de “A Bastarda”, da Violette Leduc. Ficaremos felizes, mais com a sua presença, que com o livro, claro.

Te amo, sua Isa!

Sintia Lira
Enviado por Sintia Lira em 29/04/2009
Reeditado em 30/04/2009
Código do texto: T1566531
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