O diabo anda solto!

Quem se entrega sabe. Que viver plenamente é arrancar a rede de segurança e se lançar. Navegar é preciso.

O novo exerce estranho fascínio, de repente me sinto na noite um fantasma. Ainda não consegui ceder às tenteções. Não ouso, não me atrevo, um ritual que se tornou rotina?

'' Em uma pequena lagoa coberta por um musgo milenar, um sapo pila: -eis a vida!'' Lembrei disso hoje a tarde.

O silêncio dos homens escondidos, a palpitação da expectativa, nada mexe. Dentro da eternidade dessas pedras, da dimensão desse espaço: eis a vida!

Um grande desfiladeiro, uma pedra gigantesca, embaixo, tímido, um riachinho de água clara, umas cachoeirinhas infãntis. Sozinha desço a encosta, me livro da roupa...o contato do corpo e da água...

Estar molhado é um prazer maior. As vezes se vive um momento tão pleno e é impossível partilha-lo.

As vezes o prazer é indivisível. E ainda tive a audácia de dançar. Há muito tempo a única música que escuto é essa imperceptível que há no ar, já nem sei falar de outro jeito, me senti tão atrevida, permissiva, senti no meu olhar tanto prazer, posso esperar tudo...

é demais e da vontade de fazer amor...me adoro pecadora.

Depois caio na real e volto para as ''pérolas''. Minha saudade corta feito aço de navalha.

As vezes por pura exaustão nós rimos. Rimos e rimos solto, frouxo, de não dar para segurar. Aí pinta uma boboeira de perder o controle e a gente começa a rir, e rir, rir, de uma maneira liberada, escandalosa. Entregamos os pontos, e como riso é uma coisa que contagia, está logo um rindo aqui, outro ali, rindo até as lágrimas.

Subi no mais alto, onde se avista a terra toda verde e azul a sua total extensão. Nada é maior, é feito olhar o oceano, uma coisa que não acaba, o seco do ar e depois, muito tempo depois quando entardece o Lúfus começa de um lado só. A dimensão é tamanha que se ve nitida a curva redonda da terra. De um lado escurescendo, pintam estrelas e a lua em quarto crescente fininho que me deixa totalmente transtornada, do outro lado ainda é pleno dia com todos os tons de fogo, púrpura, ouro, vermelho, não lembro-me de ter visto nada igual. Tenho uma certa emoção: '' Bem que eu merecia ter nascido.'' Vou carregar essas imagens, a sensação que me deram. Um sopro de Deus, um sussurro do diabo e eu atenta.

Vivo intimamente essa aventura. O perseverante exercício de observar.

Estou em uma cama, coberta, e nem consigo escrever direito de sono...Deus e o Demo sugerem coisas nessas horas. O dualismo de toda a literatura, no fundo do mais febril desejo, a santidade.

A face engraçada do medo, sempre me acreditei uma pessoa com medos. Não a mais medrosa que conheço, mas sempre respeitei meus medos e sou do tipo que custa a dormir a noite quando assiste filmes de terror, mas adoraa.

Viviangia
Enviado por Viviangia em 03/05/2009
Reeditado em 03/10/2010
Código do texto: T1573971