VIDA e ENTERRO de um VAGABUNDO HERDEIRO

Faz sete dias e sete noites exatamente do acontecido. Uma morte bem interessante a minha, morri como sonhava: fazendo sexo. Aliás, sexo foi algo bem presente em minha vida terrena, aproveitei todos os prazeres carnais que pude aproveitar como se eu soubesse que daqui do outro lado só obteria os tais prazeres (sexo; comida em excesso e nada saudável; álcool; pó; erva; música de drogado, como dizia um bom amigo; etc.), caso "acompanhasse" alguém "vivo" e "sugasse" seus prazeres, algo não muito fácil de explicar a vocês, meros mortais.

Posso dizer que meu enterro foi bancado por mim mesmo e preparado pelo meu bom amigo. Já tinha lhe anotado a senha do banco e deixado tudo em testamento a quem saberia cuidar e "dividir com o próximo".

Vocês não devem estar entendendo de onde vinha o meu dinheiro e por que diabos deixei tudo a outro homem. Eu não sou homossexual. Esse meu bom amigo era a única pessoa em quem eu confiava e nós combinamos que eu não o julgaria pela sua fé às vezes irracional (percebo daqui do outro lado velas são inúteis, a não ser para os psicopatas que se feriram com fogo ou mataram alguém queimado). Ele também não me discriminava por eu ser um vagabundo com uma gorda herança, que tinha (na verdade continuo tendo) muitos vícios e poucas virtudes.

Posso dizer que apesar de ser um tanto materialista - o que me trouxe muitos enganos quando "morri" - nunca me preocupei com a estética da maioria das coisas - pois um bumbum durinho e lisinho pra apalpar de vez em quando não era nada mal - e me preocupo muito menos com cerimônias fúnebres, tanto que eu nem tive velório. o meu bom amigo (que até hoje não sei que religião segue, se é que tem alguma), disse que no meu caso - para ele sou um "suicida indireto", não me peça esclarecimentos e se quiser, faça uma pesquisa no Google - seria bom um velório para que os bons espíritos efetuassem a separação de meu espírito do corpo com tranqüilidade. Não lhe autorizei, pois isso é frescura pra quem tem uma família pra chorar em cima do defunto e amiguinhos para contar piadas durante o funeral. Eu sabia de alguma forma que eu morreria jovem e lhe recomendei que ao invés de coroas de flores e um bom caixão, comprasse um bom uísque, ou bons livros, se assim o preferisse.

Ninguém além do meu bom amigo sabe de minha morte. Nem os colegas de trabalho (eu não era um completo vagabundo, eu organizava festas, montava mesas de som, palcos, por hobbie), nem as putas, e nem a família que eu não constituí.

Já que estou vivo e ainda sentindo os vermes me corroerem, pois ainda estou preso ao corpo esperando o "arrependimento" e a tal da "redenção", fico aqui fazendo projetos para uma vida futura, longe da hipocrisia humana daqual também fiz parte, e, talvez eu vá "sugar" as "energias vitais" de algum monge budista ou sei lá o quê. Enquanto isso, contemplo a minha desgraça e a dos que pensam que morrendo encontrarão a paz e o suplício eternos.

Até a próxima noitada!

Janicris Rezende Januzzi
Enviado por Janicris Rezende Januzzi em 05/05/2009
Reeditado em 05/05/2009
Código do texto: T1577574
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