Carta ao meu eterno amor.

Querido Henrique,

Tanto tempo já se passou desde que nos conhecemos. Muitas coisas aconteceram em nossas vidas e o que mais desejamos ainda não. Seria uma conspiração do universo? Só pode, mas sinceramente eu não sei e já nem procuro mais saber a respeito. Interessa-me saber o que será de nós daqui para frente.

Sempre procurei você em outros rostos, outros corpos, outras cabeças. Fisicamente até encontrei parecidos, mas nenhum era como você. Eles não eram você. Tratava-se apenas de uma doce ilusão na esperança de tê-lo bem pertinho de mim, nem que fosse por apenas um instante. Tentei apenas me enganar com falsos amores, quando na verdade buscava somente você.

Quando te encontrei, te perdi. Quando te perdia, te encontrava. E só nós dois sabemos, melhor do que ninguém, do que estamos a falar. Seguimos por caminhos diferentes. Tuas escolhas me magoaram muito, mas as conseqüências delas foram devastadoras para mim. Superei! Quando me lembro, ainda sinto vontade de chorar. Sinto raiva também. Não poderia ter feito isso comigo.

A distância nos une e ao mesmo tempo nos separa. Continuamos ainda numa pura e doce ilusão que nos mantém vivos e com a esperança de um futuro juntos. Envelhecermos juntos é um sonho, mas por enquanto, envelhecemos distantes. Eu aqui e você aí.

Somos tão parecidos, temos os mesmos gostos. Divergências são mínimas. Tanta cumplicidade em duas pessoas eu nunca vi. Forte ligação somente contigo pude vivenciar esta experiência. Estamos em perfeita harmonia. Nossos pensamentos sempre cruzados, nossas almas sempre unidas, como se duas almas gêmeas fossem. Quiçá sejam!

O vazio ainda toma conta de mim como uma faca a dilacerar meu corpo e arrancar a minha alma estupidamente, mas quando me lembro de você, meu coração se torna alegre e repleto.

Continuo a viver minha vida e estou feliz. Tenho feito muitas coisas, estudado muito e pensado em você também, que sempre estará guardado em meu coração, cravado em minha alma, como o gado tem a marca do dono em sua carcaça.

Tenho uma sobrinha que completará dois anos em agosto, a Isabella. Ela é minha paixão e me traz muitas alegrias. É parecida comigo. Muito inteligente aquela menina.

Eu ainda cultivo violetas. São muitas agora, de várias cores e espécies. Eu as adoro. Minha verdadeira paixão em termos de flores e coleção, como você sabe. Meu sonho de vê-las florir em casa se realizou para minha felicidade. Você iria adorar vê-las, mas tenho certeza que iria gostar mais ainda da minha coleção de orquídeas. Aprendi a gostar e colecionar mais delas com minha amiga Luísa, que você deveria ter conhecido. Muito sábia ela. Quem sabe um dia marcamos uma reunião num belo jardim repleto de orquídeas de todas as espécies, principalmente as rajadas e grandes, como ela sempre gostou.

O meu querido e saudoso poodle Maylon também partiu. Preferiu seguir outro rumo em sua vida canina. Acho que arranjou uma dona melhor. Chorei muito. Hoje tenho a Mel, poodle também. Foi presente da Luísa. Confesso que não sinto o mesmo amor por ela que sentia pelo Maylon e me sinto mal por isso, às vezes. Estou aprendendo a trabalhar este sentimento. Gosto dela. Passeamos juntas por aí. Gosto de comprar muitas coisinhas cor de rosa para Mel. Dizem que todo cão tem a personalidade do dono, mas com a Mel é diferente, pois ela tem a personalidade da Isabella. Sempre digo que a Mel não me pertence mais desde que Isabella nasceu e cresceu.

Quanto ao restante, não há muito que ser dito. Não me casei e nem tive filhos. Não encontrei a pessoa certa e também nem estou a procura agora. Sou jovem e tenho muito tempo para isso, pelo menos eu penso que tenho. As prioridades em minha vida são outras, mas se encontrar alguém interessante não descartarei. Não posso negar que tive namorados depois de você. Peço desculpas se o magoei, não foi minha intenção. Saiba que gostei deles, mas não os amei tanto quanto amei você, que sempre foi o único herdeiro do meu coração.

Meu querido, encerro aqui esta carta com notícias minhas. Espero que fique feliz em saber que estou bem. Quando eu tiver mais alguma novidade, escrevo-lhe novamente.

Nunca se esqueça do meu eterno amor por ti.

Saudades.

Até breve.

Bianca Stievano.

Jundiaí, 10 de julho de 2009