Preterindo a maturidade de um amor sem pretensão ( Adeus Xênia )

Para minha gatinha

Olhando seu olhar e ouvindo sua respiração sinto um conforto egoísta, pois sei que estás sofrendo. Não consigo imaginar-te ainda mais distante do que já está. Mas, em meu egoísmo, ainda estás ao meu lado.

A casa já não é mais a mesma sem você. A única alegria está em nossos corações apenas. Os móveis são opacos. Ainda tem as marcas de suas unhas. Tento conter as lágrimas, mas elas simplesmente desabam na tentativa inútil de aliviar minha dor. Nem se juntos chorássemos todos os rios da cadeia Amazônica, sentiríamos melhor. Quiçá os mares. Então nos afogaríamos e, dessa forma, o alívio.

Mas qual será o alívio? A morte? O tempo?

Gostaria que durasse pra sempre, não a dor e a tristeza de vê-la desaparecer aos poucos, mas a loucura que antes tomava conta de nossos corpos ao avistá-la. Sempre nos fez sentir mais jovens. Uns cem anos a menos. Mais moço, mais imaturo que uma criança recém desmamada. Puxa vida, como você nos fez bem!

Só de olhar, sorrir; tocar, sentir a vida nascendo novamente.

Seus olhos azuis, nos olhando enquanto dormíamos. Imagino o quanto desejaste chorar ao nos ver chorando e, com sua linguinha, lambendo nosso pranto de nossos rostos. Mas não o pôde.

Para recompensá-la, apenas posso chorar.

Lembro de correr, lembro de pular, lembro de brincar, lembro de carinhar, lembro de nem poder lembrar de todos os momentos bons, pois foram tantos. Como eu poderia desejar a eternidade se nem posso ser eterno? Nem vivi trinta anos ainda. Como poderia desejar a eternidade depois de tantos momentos que ficarão eternizados? Registrados em fotografia, as cores; na memória, as brincadeiras; no coração, o amor.

Não importa o quanto doa, não importa quanto tempo passe, não importa os amores que se foram, os que são e nem os que virão. O nosso, será eterno enquanto se nos permitirem viver. E, quando nossa memória se apagar, em algum lugar, soará em outros sininhos o som de seu ronronar carinhoso, então voltarás.

Enquanto houver sol, enquanto houver lua, enquanto chover, enquanto os rios fizerem seu trajeto imutável, enquanto o efeito estufa não nos castigar com nossa auto-destruição, enquanto houver luz, enquanto houver som ou até quando não houver mais nada, pensaremos em ti, Xênia.

Nós te amamos mais do que nós mesmos talvez um dia tivéssemos imaginado poder amar algo tão simples, a nossa gatinha. Sete vidas. Sete cores. Treze anos. Infinitos momentos.

Adeus...

Prima
Enviado por Prima em 07/08/2009
Código do texto: T1742091
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