MENINA CEGA

Uma menina cega.

Um sonho!

Promessas.

Muitas promessas!

A todos os “Santos”

Guias.

Exu.

A sua mãe já havia prometido desde o seu nascer penoso.

Não foram poucas as “romarias”.

Peregrinações!

Viagens.

Medicina, ciência, amuletos, crendices do povo, chá, ...

Um único sonho:

O sol, a praia, as flores, o pássaro ...e o mais importante.

O seu rosto!

- Dizem que sou branca! Mas, o que será ser branca?

- O que será o não ser branca?

- Você é linda. Dizem.

Como saber?

Vida de 19 anos.

Vida de escuridão.

Vida de ajuda, pena, dor, sofrimento, solidão.

- Tadinha!

Deve ser triste tropeçar na escuridão, no nada, no vazio.

Tanta fé.

Tanta esperança.

Tanta desilusão!

19 anos.

Na manhã do dia quatro de Junho de 2009, depois de uma longa noite de vigília e milagres, depois da 7º oração ao referido Deus Desconhecido. ELA acorda e grita de dor.

- Meus olhos estão doendo!

- Mãe me ajuda!

A filha é cega, mas é a mãe que não consegue enxergar que a dor nos olhos da filha, é um bom sinal. Estava sendo provocada pelos reflexos do dia de sol que acabara de entrar pelas vidraças da janela.

- Milagre! Jesus! Milagre!

Nem sabia se realmente fora Jesus quem realizara o feito!

Que importância isto teria?

Choro.

Muito choro.

De alegria é claro.

Mãe, filha e amigos...

O pai é morto. Assassinado!

- Agora sim, posso viver! Passear. Viajar. Namorar.

- Espelho. Tragam-me um espelho! Pede ansiosa.

O rosto da menina havia sido deformado na hora do parto.

Todo o seu rosto!

A gestação, resultado de um estupro familiar, foi de alto risco.

Na verdade o seu pai, também era seu avô!

Depois que começou a enxergar, ela começou a morrer!

filoliveira
Enviado por filoliveira em 16/08/2009
Reeditado em 14/01/2020
Código do texto: T1756798
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