À Morte

Morte,

Hoje clamei por teu nome,

Mas não desta vez implorando meu fim.

Desta me desfiz em lágrimas pela tua impiedade...

Tanto, tanto te clamei para me levares em outrora.

E eis que quando desisto inutilmente de clamar por tal absurdo

Levas-me meu único amor...

Oh! Como podes ser tão fria?

Por que não me levaste em seu lugar?

Ele clamava por vida, eu nunca me importei com tal utopia.

Oh morte! Minha dor se expande além da extensão do mar,

Minhas lágrimas já resultaram em salinas.

Salinas estas hoje, à solidão.

Nem mesmo o vento,

Aquele anjo de doces lábios que dia-a-dia beijava-me o rosto e bagunçava-me os cabelos...

Nem mesmo ele permaneceu nesta nostalgia.

Oh morte! Atirei-me num abismo sem fundo

E nem notei que era o teu mundo.

Hoje muda, canto, contudo.

Um grito surdo, mudo.

Mas este escutado por todos que fitarem-me os olhos,

Um breve socorro para um alguém que não suporta mais o sofrer,

O viver.

Hoje secaste minha última fonte de saliva

Meus lábios estão secos

E ainda há um pouco do teu fel no meu sabor.

Oh morte! Porque fosses amar a mim?

Porque não me deixa livre para seguir?

Tanto clamei e nunca me escutaras

Agora, mata-me pouco a pouco,

Dia após dia

E isso me consome mais que a própria vida,

Talvez, deveria eu clamar por vida.

Mas estava eu ciente da falta de saídas,

Logo permaneço entorpecida.

Por quê? Por que me persegues?

Já não suporto esse teu odor que não sai de minhas narinas

E menos ainda esse beijo obscuro que te contenta, roubando as últimas gotículas doces da minha boca.

Ah! Como podes?

Como podes me negar e depois querer-me completamente?

Levas pedaço por pedaço meu,

Ao menos fosse humana uma vez!

Porque não levaras o meu coração no lugar dele?

Ao menos assim eu não sentira nada...

Mas não, sua frieza é desconcertante.

Ah! Maldita!

Tire seus lábios sujos dos meus

E leva-me logo por completa.

Assim sentirei uma única dor,

Assim sentirei menos nojo de sua sombria presença.

Que sabe um dia eu te ame...

Que sabe um dia em um estágio altíssimo de loucura eu venha a te amar...

Ah! Só estando louca mesmo!

Entenda. Eu não posso, eu nunca pude te ter em mim.

E nem queira eu ter-te.

Eu clamava por meu fim e não por ti.

Entenda!

Ao menos tente entender-me.

Ao menos...

Imploro! Imploro para abandonares-me!

Meu choro há dias não cessa,

Por incontáveis vezes tentei inutilmente, mas já não consigo me recompor.

A imagem dele permanece em meus pensamentos e de mim não sairá...

E essa sua imagem ante minha face inquieta meus dias.

Sai! Deixa-me!

Ao menos me deixa sofrer em paz!

Ah! Cretina!

E ainda fitas-me com tamanho sarcasmo...

Clamei hoje por ti na esperança de me libertares,

Mas a cada dia me prendes mais e mais.

E vem. E impregna-se em mim...

Me solta! Deixe-me ir!

Ou deixas, ou irei fugir!

Fugirei em busca da esperança e com ela permanecerei...

Em outrora, correria eu para os braços do amor, mas o assassinastes friamente e me deixastes enlouquecida.

Escuta!

Eu não suporto sua imunda presença!

Sua face me enoja!

Já me vou...

E não voltarei a clamar por ti.

Ah! Não me faça essa falsa cara de choro como uma criança mimada!

Ao menos se merecesse compaixão, mas não, nem isso mereces.

Tanto chorei por ti que hoje já não tenho lágrima alguma.

Talvez um dia, um dia eu volte.

Quem sabe...

Agora apenas entregar-me-ei a solidão

E esquecer-me-ei de ti.

Saibas que jamais entenderás o amor,

Nem ao menos o que morreu por tuas mãos.

Adeus sombria dor.

Permaneça entregue a escuridão

E esquece de mim, ilusão.

A que tu dizes ser amor.

YIFS
Enviado por YIFS em 20/08/2009
Código do texto: T1763572
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