carta as baleias

nos mares

escuros

uma sopa

quente

o calor

a vida

o auto organizar-se

da matéria

esfera sobre esfera

o cérebro de deus

o auto replicar

a vontade de existir

daquilo que sorri

aquilo que em si

cresceu por se amar

pra poder se questionar

o inanimado

o descontente

se animou

nesse presente

começado num passado

que nunca passou

pois tudo que criou

ficou

como o alicerce

da grande questão

de onde viemos?

quem somos nós?

nada sei

e tudo sou

sou o que passou

passado dentro

dos meus ossos

passado posto

pra fora

da rocha

a pedra de osso oco

como oca

de índio

que caça e come

seu passado

nunca sente-se

atrasado

aprecia o mutável

adora o deus sol

e as baleias

cãesinhos nadantes

como nós

falam com os olhos

louvam e agraciam

em nós

o seu passado

mutável desfigurado

com saudade de suas pernas

vem a praia e tentam

caminhar

pro mar

nem querem voltar

pelas narinas

o ar a exalar

o cheiro do medo

o sabor do mistério

quem fica n'água

quer a terra

tetrapodos terrestres

se encantam com o mar

por lá não poderem respirar

por lá antes de tudo

ser seu lar

a saudade do passado

bate

pelo simples fato

de dentro de seus ossos

morar o mutável

inestímável

do extinto que não morre

do instinto que se move

a frações de segundos

dos bilhões de anos

que podemos ver

com nossos olhos

cegos guiados pelo

amor