A REFLEXÃO DO MUNDO

A idade nos mata aos poucos, vamos nos tornando secos, céticos, duros com a vida. Vamos criando monstros imaginários, inventando manias rígidas, desperdiçando o brilho e a pureza da um sorriso verdadeiro, vamos cristalizando opiniões formadas há mais de anos, desaprendemos a experiência de errar, pensamos que tudo tem que ser perfeito.

Nos tornamos amargos, intocáveis, burocráticos, moldados, domesticados; invisivelmente envenenados pela ordem que se diz: ordem natural da sobrevivência. Deixamos de pensar como as crianças, e isso nos afoga na imensidão dos pensamentos. Somos pateticamente controlados pelo relógio, que controla nossos atos. Perdemos... o fôlego, a originalidade, a certeza de conseguir fazer o impossível.

Nos tornamos técnicos, funcionários, subordinados, números, números, números. Vivemos sem saber por que, porque já não temos mais sentido, uma vez que deixamos nossos sonhos no meio do caminho, vemos soluções apenas para nossos problemas financeiros, não para o mundo, não para o próximo, não para a vida alheia, apenas para as finanças.

Tornamo-nos egoístas, concorrentes uns dos outros, lutamos contra o próximo numa balança que nem o termo: totalmente desigual, estaria justo, pois o total está no bolso de uma vírgula, e o desigual, tão desigual, que deveria ganhar outro nome.

Astronomicamente, nos vemos sem rumo até a morte. Moramos na hipocrisia de nós mesmos, na invenção que nos aprisionou, vendendo uma falsa liberdade.