Carta Cora Coralina

Cubatão, 14 de março de 2010

Caros amigos escritores,

Pensava eu após um pouco de bar, pessoas, cigarros e palavras...

Cora Coralina, íntima de Drummond e Jorge Amado... Que inveja se postou no meu sorriso, ela, amiga dos reis, cartas e mais cartas à mão, sim, escritas a mão, com letras particulares de cada um, conversavam por meio delas... Nem se sonhava nesse método tão rápido e eficaz chamado Internet, eram correios e mais correios até se chegar naquela casa.

Que tédio saber que não nasci na época da máquina de escrever, que tudo não é mais tão caprichoso e demorado assim, ai que invejinha “branca” senti de Coralina, a vida contada com mais glamour, sob uns versos e caneta de palavras tortas sobre o papel listrado, muitas vezes encardido com aquele café que escorregava pela barba afiada de um pensamento.

Então disse a mim mesma: Vou escrever, sim, vou escrever cartas, quem sabe um dia não estarei em uma exposição também, por meio de quadros, cartas de amigos que aprecio em meu coração, quem sabe um dia não estarei atrás de aparelhos envidraçados que contam minha história e de meus queridos escritores que estiveram comigo nesta ligação? Tudo intocável, objetos de valor, papéis de cartas entre amigos que sentem, fazem e amam a Arte como ela é, tal como a vida deve querer. Só que desta vez vou ter que dispensar o papel e a caneta, terei que fazer como nos moldes do “meu” tempo: Internet e E-mail. Jeitos rápidos de saber o que quero dizer. Apenas quero um dia ver esta carta numa moldura envidraçada, onde eu terei a certeza do jeito imortal dela de ser, só que sem borrões, tintas claras ou palavras amassadas. Que pena a minha!

Ai que inveja sua Coralina, mas um dia é você, que sentirá inveja minha.

Ana Nery Machado