Carta lida – duas vezes uma despedida

Hoje pela manhã, chegou até minhas mãos, uma cópia da carta que você havia enviado para sua AMADA poetisa, datada do dia 25 de Agosto de 1929.

Quando comecei a lê-la, meu coração bateu acelerado, fiquei sem fôlego quando percebi que as palavras iniciais da dita missiva, começavam com uma frase que muitas vezes foram ditas e escritas por você, direcionada a mim num momento de prazer e carinho. Isso me abalou, terrivelmente!

Quantas vezes, entre quatro paredes, me chamavas de musa ardente, sereia ébria de amor, de o quanto bela eu era de corpo e alma, sendo uma filha de uma divindade.

Os Deuses do “Olimpo” devem estar agora “maldizendo” teu nome, por tantas injúrias e mentiras. Quantos enganos! Quantas palavras de carinho ditas em vão.

Cada palavra de despedida, cada ponto e vírgula tão cheios de insegurança. Parece que o ADEUS que querias dar não é de todo real. Teu coração ainda vibra por ela, tuas emoções são fortes, pois sucumbistes das delícias do prazer carnal, sinto que TEU AMOR ainda não está resolvido.

Quantos desenganos. Teus olhos dizem: talvez. Tua pele diz: quero-te!

Tua boca por mais que diga “não quero mais”, ela te engana. Teu corpo e tua alma ainda vibram por ela.

Você saboreou todas as delícias deste amor, te perdeste por completo na luxúria, na “devassidão” dos desejos próprios dos amantes.

Cada palavra escrita, revela o quanto ainda amas a tua poetisa. O quanto ainda esperas ela está consigo, para matar teus desejos inconfessáveis.

Sinto-me perdida na multidão depois desta carta tão bem escrita e reveladora. Quanto tempo perdido em querer-te, quanto tempo passado ao teu lado, e você pensando e desejando a outra. Quantas emoções e sentimentos compartilhados e somente absorvidos por mim. Quantos enganos, quantas mentiras...

Tua carta me fez rever todos os sentimentos que pensava sentir por você. Pois, com tantos enganos, já não possuo mais vontade em te querer, eu te amar, em desejar-te com tanta vontade, pois minha alma e meu corpo te queriam, assim como um jardim precisa da chuva para crescer, viver e florir.

Você matou todas as minhas emoções em uma só carta de amor. A partir de hoje já não terei mais vontade em te seduzir, pois meu amor ficou abalado. Não te procurarei mais, minha decisão já foi tomada. Não te quero mais em minha vida!

Beijos com sabor de saudades daqueles momentos que não vivemos.

Despeço-me com o coração partido.

Adeus!

Porto (Ribeira), 26 de Agosto de 1929.