A Carta esperada

Porto ( Ribeira) , 30 de Outubro de 1908.

Boa tarde querido amor,

Esperei por sua carta por dias, e até o momento nunca chegou, perdeu-se entre os espaços contidos e divididos pelo imenso oceano. Sei que hoje a Europa não é mais a mesma, pois o euro já a domina, e os amores tornaram-se sem importância.

Quantas noites ficarei sem dormir, à espera da sua resposta? Quantos dias preocupada , ficarei olhando o horizonte, para ver se o carteiro aparecerá em minha porta? Quantas chuvas sentirei, para que as gotículas sejam sentidas realmente na minha pele, que deseja tanto a tua e que já não percebe a mim mesmo? Quantos ventos frios suportarei , até que venha a sua resposta?

Quantos questionamentos diante de teu silêncio! Quero respostas. Preciso saber sobre você. Onde estás? O que fazes neste momento que nem se lembra de mim , e nem do meu amor?

Ontem, eu soube que estivestes na festa, e que nem perguntou por mim. Meus amigos ficaram intrigados com tua falta de sensibilidade, pois todos já sabiam sobre nós dois e, no entanto, sumistes na neblina fina. Nem chegou a falar ou cumprimentar nenhum deles. Acharam-no “besta” e “metido”.

Todos eles agora acham que você não serve para ser meu namorado, pois você mostrou-se um “malandro” de carteirinha, e que passou a noite a dançar com todas as moças da festa. Chegou até a sair com uma delas no final da noite.

Como faz muitos dias que você não me procura, já não mais terei ilusões quanto ao nosso romance. Não quero amar um homem que me despreza, que some todas as vezes que algo fica difícil. Que só aparece quando quer ou quando precisa.

Desejo que ao receber esta missiva, você se encontre bem de saúde e que seja feliz a sua maneira.

P.S: Deixarei com o José Narciso o anel que você me presenteou no dia de Saint Valentim. Ele já não me pertence, assim como você.

Meu irmão não irá mais a Maricá, visto que não foi liberado do trabalho.

CBL com carinho