tu, solidão (2)
Deixa-me agora sozinho um só momento. Quero recordar uma última vez aquele outro Verão. Aquele em que te julguei morta. Era novo, não sabia ainda que não morres nunca, que apenas te escondes. Pela primeira vez, as férias de Verão não foram passadas apenas contigo, deixa-me recordá-las uma última vez. Deixa-me recordar esse maldito maravilhoso Verão em que te julguei morta. Apenas com a tenda e pouco dinheiro, quase sem roupa, mas com muitas drogas, fugi para a praia onde conheci a Luísa. Onde conheci e perdi a Luísa. Onde nasci e perdi a minha vida. Éramos novos, os ácidos juntaram-nos. Foi demasiado intenso. Conhecemo-nos numa viagem. Numa viagem muito azul que fizemos. Havia flores e mar e sereias. E o céu era muito azul. E o mar era muito azul. E a música que ouvíamos, se aqui estivesses Luísa, era azul, lembras-te? Falámos toda a noite com o corpo e acordámos despidos na tenda. A Luísa também não era de lá. Também ela fugia.
(continua)
Luís Abreu
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