Carta a Kerouac (parte III)

É certo que dinheiro não compra tudo, mas nos dá a dimensão quase completa do possuir, o que creio seja o mais próximo dessa tal felicidade utópica.

Você nunca foi óbvio e por vezes se zangava com minhas serenidades, mas o que posso fazer?

Por mais que queira não ser mulher, por mais que negue essa condição imposta e desonre essa tal feminilidade, ainda sou mulher e tenho sentimentalidades.

A tala na perna e o andar desajeitado te deixaram mais frágil e as impossibilidades te fizeram um pouco mais meu e isso te desagradava.

Não pense que desconheço tal sentimento, você sempre me aprisionou em sua boca, baby!

Foi bom ter seu corpo entregue aos meus cuidados, naqueles dias.

Banhar e alimentar o homem que venerei apaziguava as dores de faltas e ausências.

do que não senti por não gerar ou parir, creio que tive ao acolher-te.

Não digo isso com amor, o sentimento de posse é mais forte que qualquer outro, fui dona de alguém, mesmo que por pouco tempo.

Temos nossas brevidades pérfidas e admito que gostei de ter-te, naquela época em que não tinha quase nada além de mim.

Larissa Marques
Enviado por Larissa Marques em 04/05/2010
Código do texto: T2236945
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