Carta a Kerouac - (parte IV)

Conheço bem sua filosofia do tudo ao mesmo tempo, agora. E sei que se irritava em ter apenas duas mãos para abraçar esse mundo gigante.

Nunca dormia antes de você e quero que saiba que ouvi todas as suas orações para Dean Moriarty, nosso deus-pai.

Sabe, eu já quis tudo ao mesmo tempo e não aguentei o tranco, nem Dean aguentou e acabou como pastorador de carros numa garagem qualquer em Nova York.

Já estive no chão, na lona, sei bem a sensação de um direto cruzado, o sabor do sangue na boca e o gosto que a derrota tem. E às vezes arroto com o gosto dela na boca!

Mas a derrota não me traz desmerecimento, ela é minha única e verdadeira glória, baby!

Ainda amo você por me fazer lembrar do que vivi quando tinha a sua idade e para quem não acredita em deuses isso é bento!

Sobraram-me apenas alienações e as recordações das viagens alucinadas que fizemos.

Não tenho mais com quem compartilhar minhas sandices e a vida desregrada que levo, estou entregue ao álcool, às drogas e aos viscos sexuais.

Outrora pensei em regressar ao nosso canto e olhar-te mais uma vez nos olhos, como quem anseia se encontrar fora de si, mas já desisti.

Não somos os mesmos!

Larissa Marques
Enviado por Larissa Marques em 10/05/2010
Reeditado em 10/05/2010
Código do texto: T2248350
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