Carta a Kerouac - (parte VII)

Nunca me iludi com saudosismos baratos, mas sinto saudades do tempo em que estivemos juntos, tinha companhia e assunto depois do sexo. Com quem mais discutiria Maiakovski depois de trepar? Sexo bom, diga-se de passagem.

Perdi a conta de quantas vezes preparei o revolver e quis reduzir minha vida de forma simplista, como Maiakovski fez, quem dera tivesse tido coragem!

Optei pelos sacolejos das viagens, as caronas com estranhos, o sexo alucinado. Escolhi dissolver fronteiras e perverter o cais, ir além do que esperavam de mim. Preferi magoar.

Gostava do cheiro de sua jaqueta surrada que me aqueceu durante algumas noites, embora preferisse seu corpo. Mas nem sempre pôde estar comigo, o mar chamava você de tempos em tempos e eu ia ao porto ganhar a vida na espera de seu aroma em mim.

Assim nos deixávamos vaga e dolorosamente.

Trazia-me galhos de presente, um a cada chegada, alguns floridos outros estéreis, mas eles vinham com um toque de dúvida.

Havia mais de uma razão para viver naqueles tempos, embora aquela arma dentro da bíblia hora ou outra me desafiasse a brincar de roleta russa e ela sempre me deixou perder!

Apressados e quase sempre atrasados nos tocávamos e nos deixávamos sós.

Hoje encontrei um galho seu entre “O proletário voador” e “A plenos pulmões”, sangrei.

Larissa Marques
Enviado por Larissa Marques em 15/07/2010
Código do texto: T2378735
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.