Carta à Família Real em Portugal.

Eis-me aqui Vossa Majestade, novamente após 500 anos. O que venho descrevê-los é de grande importância e maravilhoso.

Quando cheguei aqui no Brasil, mais precisamente no Rio de Janeiro, claro estava o dia e a pele branca era suada pelo excessivo calor. Foi então que veio a surpresa: Homens e mulheres continuavam nus, a tomar banho de mar, enquanto em terra firme, máquinas de aço e rodas de borrachas exibiam seus roncos em altíssimos ruídos fazendo-me descrer que ali mesmo era o paraíso que descobrimos há 500 anos outrora.

Majestade, rogo-lhe que, não mande a esta terra descrente e perversas nossos honrados homens, pois aqui uns matam os outros por migalhas de comidas, arcos e flechas já foram substituídas por armas que cospem fogo e a tropa governamental defende apenas interesses de alguns e não da coletividade.

Há também aqui, nesta terra gigantesca, pessoas sem moradia e sem comida, sobrevivendo apenas com o que catam em lixeiras, disputando com camundongos e caninos o resto que a nobreza desperdiça. É de doer a meu coração. Há doentes em filas de proto-atendimento aguardando a vez que nunca chega e muitos não resistem e falecem ali mesmos, jogados nas calçadas.

Embora, aqui não pareça mais o paraíso descoberto por Pedro Álvares Cabral, há ainda coisas maravilhosas que deixaria Vossa Majestade boquiaberta. Não te iludas nem tão pouco desdenhas da majestosa e belíssima paisagem deste lugar. Ao chegar terás a bela praia de Copacabana de painel para vislumbrar, mas alerto-te também que mais acima dessa imensidão e esbranquiçada faixa de areia, há casebres que abrigam descendentes de nativos que por ironia do destino não são donos da terra que nasceram.

Majestade, termino aqui esta pequena carta. Embora já tenho feito contato direto com vossa majestade por e-mail, vídeo-conferência e celular, esta é só para mostrar que a escrita permanecerá por mais 500 anos para futuras gerações tomarem conhecimento do que acontece por aqui.

Rio de Janeiro, Brasil- 20 de janeiro de 2040.

Antônio Gabriel Vaz de Caminha.

Henrique de Paula
Enviado por Henrique de Paula em 17/07/2010
Reeditado em 13/12/2016
Código do texto: T2383724
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