Ao Nosso Professor de Filosofia

Professor,

A idéia de estudar Filosofia na faculdade causou-nos um calafrio como um tiro à queima roupa próximo ao peito. Nunca fomos amantes dessa matéria, pra ser sincero, sempre a odiamos em toda nossa vida escolar. Os professores eram um porre e os assuntos um saco.

Então nos sucede ter em nosso currículo essa... Deixa pra lá. Não bastasse nossa precoce antipatia, ainda sofremos com as informações e recomendações dos períodos mais avançados. Antes da primeira aula não tivemos apenas um comentário, mas, vários. A opinião parecia ser generalizada. Concluímos: ou eles querem mesmo nos alertar, ou esse é o nosso trote de calouros.

Enfim, chegamos na primeira aula amedrontados. Este era o cenário: uma sala cheia, num silencio profundo, diante de um professor esquisito falando sem parar numa língua que não era nossa, e que até hoje nos é estranha. Como a pior atrocidade que pode ser cometida com um ser, ele nos deu o golpe fatal: estaríamos juntos por 3 semestres! Ou seja, um ano e seis meses, 78 semanas, 547 dias, desgraça. Estávamos ferrados, lascados, fu......gindo da realidade que estava diante dos nossos olhos.

Realidade! E “O que é Realidade?” foi o nosso primeiro assunto. Você nos mostrou que não existe uma, mas inúmeras. Disse que um quadro pode ser visto de varias maneiras. E assim, pouco a pouco fomos abandonando o nosso Senso Comum e aperfeiçoando o nosso Senso Crítico, pois você não nos contava apenas Mitos, você nos ensinava “O que é Religião”.

Enquanto estávamos na Caverna de Platão, você já havia fugido e agora tentava nos convencer de que o mundo não era aquelas simples sombras que dançavam diante de nossos olhos e acreditamos em você, tanto que percebemos que “O pensamento espia o fundo do inferno e não se atemoriza”. Estávamos perdendo o nosso medo, ou aumentando talvez, à medida que você ia vasculhando o cemitério e nos apresentava a pessoas como Sócrates, Aristóteles, Conte, Kant, Descartes e até a alguns vivos como Dermeval Saviani e a Marilena Chauí.

Sentíamos no “Mundo de Sofia”, onde a árvore cai no meio da floresta e não faz barulho. Você falou de Ética, de Moral, nos deu uma nova “Concepção de Homem”. Nos chamou de animal, simbólico, mas animal. Causou em nossas vidas uma Revolução e estabeleceu um novo Paradigma que emerge não da nossa Objetividade Empírica, mas sim da nossa Subjetividade. Não da nossa Razão, mas dos nossos Órgãos dos Sentidos.

Sentiremos falta do seu vocabulário, da sua língua estranha, só compreendida com um dicionário ao lado. Era uma tal de preponderância, de inatismo, apriori, o cumulo do simulacro, dentre outros piores. Mas o que mais nos deixará saudades é o seu “ah? O que? O que foi menina?”.

Falaremos bem de você para os próximos que virão, no entanto só queremos que saibas que ainda que surjam outros melhores nenhum será tão especial como você.

Valeu Professor!

Tiago Mota
Enviado por Tiago Mota em 24/07/2010
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