Versos de dor

Hoje sinto-me sufocar por esse sentimento indivisível; por esse tormento que me faz padecer, desabando em tristeza. Desejo, mas não tenho o direito de me render aos braços do meu bem. O bem que me persegue, embora de forma involuntária, talvez pelo que alguns chamariam de “destino”.

Faço transparente a minha falta de juízo, ao pressioná-lo esperando reação. Devo escusar-me pela minha demência. Pois, diante do meu absoluto insucesso, arrasa-me a certeza da minha incapacidade de perdoá-lo. Pouco me resta de lucidez, mas o suficiente para admitir que, em meu íntimo, sinto como se precisasse puni-lo.

Não importa o quanto eu me contenha, meus pensamentos vão aonde ele está. Sonho com o grande dia: o nosso encontro! Chego a sentir velozmente correr o meu sangue, quando idealizo o primeiro beijo; e em delírios eu posso experimentar o seu gosto; fico a me perder em pensamentos que me permitem sentir na pele o arrepio do seu toque: uma atração fora do comum. Imagino o deleite ao me dar inteira ao que o seu desejo quiser.

Mas suas atitudes, ao recusar o meu amor, fazem cessar as minhas forças. É arrasadora a forma como me rejeita. Sua resistência, dia a dia, vai me vencendo, tornando-me um ser perdido em meio a incapacidade da conquista. Quanto a mim, absolvo-me completamente da culpa: ninguém pode ser julgado por amar. Hoje o que eu queria era o colo de alguém que pudesse me consolar.

Por fim, toma-me o desânimo, e em completa insensatez revolto-me, reduzida à indagação mais cruel:

Que outra razão terei eu para viver?

Maria Celça
Enviado por Maria Celça em 12/08/2010
Reeditado em 12/11/2010
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