Notícias de mim

Alguém, hoje ou ontem, pedia-me que desse notícias minhas. Alguém que já foi próximo - aparentemente - e depois foi distância e depois foi encontro e finalmente vai sendo ... apenas.

Pensando bem, é alguém que nunca verdadeiramente quis saber notícias minhas e sempre que eu quis dizer de mim, nunca verdadeiramente ouviu. Porquê agora? E como poderia eu falar-lhe de mim, agora que tomei consciência de como nos fomos tornando estranhos? Como poderia falar-lhe do meu quotidiano tão falho de afectos, da minha casa vazia de "gente"? De encontros marcados que não aconteceram? Dos gigantescos conflitos que me derrubam? De como tenho que recorrer agora e sempre ao meu único amigo, que amo e odeio (e ele a mim), para me levantar? Que continuo a depender das personagens dos meus livros e dos meus filmes? Que ontem mesmo, só Colin Firth conseguiu sossegar-me com as suas histórias, sendo Vermeer, enigmático e sensual, George Falconer, solitário e suicida ou Mr Darcy, altivo e distante. Como falar-lhe de como há três anos que adormeço ouvindo o meu querido René Artois, o Tenente Gruber "and his little tank", Herr Flick of the Gestapo e todos ou outros? Que já conheço de cor os diálogos? De como estou a ficar farta de estudar Teoria da Literatura e que me espera mais uma tarde e noite de estudo dessa mesma teoria? Mas como, por outro lado, estudar Teoria da Literatura é o meu projecto mais firme e estruturado?

Ele passa bem sem notícias minhas. E não só ele. Quanto a mim, tenho a arte como refúgio. Já a realidade, o que é a realidade? A poeira que fica, depois dos dias perpendiculares ruirem com estrondo no horizonte?