eu deveria ser a sua irmã para a vida toda

sabe por que eu fiz tudo isso, essa merda toda, que eu nunca disse em voz alta, mas escrevi mais de mil vezes no meu blog, no meu diário, na capa do meu caderno [e no teu, algumas vezes]? porque lá fora nada disso faz sentido, mas aqui dentro, aqui – de olhos fechados e corpo transparente -, seus antigos sorrisos, suas expressões originais, seus palavrões machistas, suas estórias confusas me mantém acordada. são 00:43, mas de novo eu precisei escrever. Tirar isso de dentro de mim. Fingir que vou imprimir esse texto e te entregar. Dobrar o papel, colocar dentro de um envelope, entregar nas tuas mãos, mesmo que você note que as minhas estarão trêmulas. “Lê isso agora”, seria meu pedido. Você franziria o cenho, movimentando uma de suas sobrancelhas. E seus olhos iriam sorrir de um jeito assustado, perguntando-se que porra que de piada é essa. Começaria a ler, com um sorriso cínico, e depois sua expressão iria desaparecer, devagar, como se alguém estivesse tocando uma música bem triste no fundo. E não seria mais engraçado. Aliás, eu não sei o que seria. Mas seu corpo todo ia congelar, de medo ou de alguma coisa igual a pena, dúvida ou perguntas de porque eu não te disse isso antes. E é por isso que eu estou te dizendo agora. Entende? Antes era muito cedo para notar. E agora parece meio tarde pra descobrir. Mas eu teria te dito. Deixado as coisas claras e na mesa. Pra você escolher. Uma maneira de não estragar a amizade tão pura que nunca vai ser o bastante pra mim ou uma maneira de dizer que isso tudo é um erro, que eu deveria ser a sua irmã pra vida toda. Mas eu não sou. Nossos sangues são diferentes. O jeito que eu escrevo pra conseguir ter um dia decente, sem milhões de diálogos de “Como seria se...”, ou lágrimas, são prova de que não somos irmãos. E não somos. Mas apesar de tudo, você ainda estaria lendo essas coisas, você – que lê de um jeito tão calmo, pra absorver conteúdos -, é, com certeza seria perturbador absorver o significado de tantos silêncios, tanta distância e tantos pequenos toques inúteis. Você continuaria lá. Parado. Com cara de quem deveria ter algo realmente legal a dizer. Porque, oi, eu sou uma dessas garotas realmente legais, a quem os outros tem medo de machucar e por isso protegem como irmãs. Mas como me proteger de si mesmo, se a sua própria proteção fraternal é um indício da minha dor? Então viria o momento. O silêncio mais estranho e imperturbável, aquele silêncio que vem depois de alguma notícia ruim. E a verdade, é que eu escrevi essa carta justamente porque cansei de tentar te dizer com silêncios, todas essas coisas meio metafóricas e que há tantos anos são reais. Agora você abaixaria a carta, e me olharia nos olhos, como se perguntasse mais dentro de mim do que de fora “Isso é sério?” e eu não precisaria responder, porque responder seria ouvir o silêncio duas vezes, penetrando a frágil linha que nos tornou amigos. E você não precisaria falar. Porque qualquer discurso me parece uma despedida, qualquer desculpa é como ver quilômetros me arrastando a força. Sorria, sorria. Aham, claro. Eu queria deixar esse envelope na sua mão, sabe, juro que escondi meu coração lá dentro ):

brenda
Enviado por brenda em 26/08/2010
Código do texto: T2459862
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