Ao meu travesseiro

Companheiro de luta, hoje eu preciso adormecer mais cedo. Seja bacana comigo, cuide com zelo da minha cabeça,  fervendo na maciez do seu algodão.
Por esses últimos dias, tenho transpirado exausta procurando uma melhor posição.
Essa insônia maldita, me deixa fritando aqui nessa cama, que se fosse redonda talvez não me incomodasse tanto. Os espelhos eu dispensaria mesmo.
Companheiro, não sei como consegue ficar tão tranquilo, ouvindo minha respiração quase brutal, alcançando punhais do sacríficio mental. Ligo a tv, o som e o pc... Os três juntos oscilam entre neuroses e overdoses das minhas línguas e cismas.
A poesia sumiu, correu para debaixo da cama. Logo ela, que me rende momentos de total gozo noturno. Acho que anda de papo com o soturno do quarto. Bem que ela podia, largar os meus medos por lá. Tenho vontade entrar debaixo da cama, tirar os chinelos de lá e dar umas palmadas nela... Ah, ela não merece isso. Desculpe-me 'amada', por esse enguiço. Tomara que ela não esteja escutando nossa conversa.
Meu querido companheiro, meu cabelo está cheiroso, mas rolando a cabeça desse jeito, o aroma vai embora... Não respire tão fundo!
O relógio avisa, mais uma hora, e eu ainda tão desperta. Não sei como tudo começou, mas preciso que termine qualquer horas dessas...
Estou sem fôlego, minha garganta está seca e meu corpo moído.
Por favor, canta uma cantiga no meu ouvido...
Conta uma história, me dá logo um sinal que não faça zunido.
Companheiro, desculpa essa prosa sem rima, mas me sinto menina e preciso de colo.
Vou contar até três, depois me jogo de vez na maciez da sua atenção.
Desculpa, vou te virar de novo, como faço de vez em vez ... Te abraço com bravura, numa loucura de embriaguez.
Agora irei fechar meus olhos,  deixarei tudo ligado, talvez assim eu me desligue.
A poesia continua debaixo da cama. Logo mais, quem sabe, ela me queira de novo.
Meu querido travesseiro, beijo, beijo, beijo. Fica mais comigo, assim, assim... Me faça dormir primeiro!
Se for preciso, conte comigo cinco mil carneiros...
Valeu companheiro,
Sua
Cris

Cristina Jordano
Enviado por Cristina Jordano em 17/10/2010
Reeditado em 01/11/2010
Código do texto: T2562471
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