Adeus meu menino...

Te vi menino,com os pés descalços correndo no meio da molecada da rua, jogando pelada num campinho sem gramado,pele morena bronzeada, olhar brilhante, cativante. Eu aos seus olhos sobressaia, menina meiga, pernas torneadas, cabelos embaraçados, rosto empoeirado, no meio das outras meninas sempre a exibir pelas ruas minha arte recém aprendida, com dedinhos envoltos em linhas, crochetava um pequeno pano abóbora.

Te vi rapaz a exibir um lindo sorriso, fala mansa, palavras verdadeiras, tímido, porém sedutor; todos disputavam sua atenção, era prazeroso estar ao seu lado.

Você me viu moça se transformar, sorriso maduro e levemente apimentado, olhar tímido, sedutor... Na flor da adolescência nos entregamos aos braços um do outro, você tão lindo, me completava, eu tão forte e determinada te encorajava.

Numa noite em que fogos de artifícios cruzavam os céus anunciando a chegada de mais um ano, nossos lábios se uniram num beijo desajeitado, afinal nossa amizade, nosso amor era genuíno.

O tempo foi passando e nós um com o outro foi se acostumando, eu não sabia mais viver sem você, e você me tinha em domínio.

Enfim após uma cerimônia em que os holofotes eram só direcionados a nós, chuvas de arroz, abençoando o casal, despedidas em lágrimas daqueles que de certa forma nos perdia para vida, eu em seus braços deixava de ser aquela garotinha e me tornava uma mulher, e você em meus braços se descobria homem.

Parecia perfeito, até você amarrar meus passos aos seus, como pássaros com as asas unidas tentamos voar, cada um as batia visando uma direção; começamos então a nos machucar, as feridas foram crescendo ao ponto de nossa convivência ficar insuportável.

Eu descobri que meu mundo era só meu, eu tinha por direito alçar meu próprio vôo, fazer minhas descobertas. Eu ,com o coração partido consegui soltar as amarras, vi seus olhos brilhantes de lágrimas darem adeus a sua menina, você parado ficou olhando-me, mas eu não podia retroceder, precisava desesperadamente de ar, estava a sufocar.

Jamais esquecerei seu amor, sua dedicação, mas ela foi demasiada, ao ponto de você viver só pra mim e exigir que eu vivesse só pra ti, mas a vida não é assim, existem os lírios lá fora, você não gostava de sentir seu perfume, mas eu sim; gostava de sentir a relva fresca, o gotejar do sereno matutino, ouvir o som das águas e o canto dos pássaros que tanto me fascina... Eu poderia ir e voltar para seus braços, cheia de novidades para compartilhar, mas você não me deixou viver as minhas alegrias, inibiu minha voz, deixou meu olhar se perder triste no horizonte.

Não sei se erro em afastar-me de alguém que tanto me ama, mas que de certa forma eu deixei de amar, espero de coração que um dia você me perdoe e entenda que minha fuga foi estratégia de sobrevivência. Vôo livre levando no peito a sede de viver e pedindo a Deus que não te deixe sofrer.

Damiana Almeida
Enviado por Damiana Almeida em 22/10/2010
Código do texto: T2571027
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