Carta Aberta à Dona Dirma

Sra. Dona Candidata à Prisidenta do Brasir,

A sinhora me adescurpe o jeito simpres de falá, mais eu percisava antes de dumingo vim lhe contá um poco da minha história, pra modo de lhe fazê um úrtimo pedido.

Dona Dirma, sou uma muié simpres cumo muintias otras desse Brasir, tenho trinta e treis ano de idade e o meu trabaio a sinhora inté num vai gostá de sabê. Num foi por farta de campiá não, é que sô meio disconcertada da cabeça e, de veiz em quando perco os sintido. O dotô diz que é uma tar ‘pilepsia’, intonce ninguém qué mi dá trabaio, pra modo d'eu disacordá durante o sirviço nas casas deles. Mais, sou mãe de cinco fio e, deles perciso cuidá, tem água, luiz e arguma ropa pra pagá.

Meu fio mais véio, o crack já me tomo. Perdido vive na rua, perambulando e, pra casa nunca mais vortô, isso me dá uma dô... Mais tenho mais treis minina, uma de cartoze, as otra doze e deiz ano e, por úrtimo tem o guri de dois ano que inda é garrado nas minha teta. As mais véia tão instudando, inté otro dia chegaram em casa facera, pruque a iscola ganhô computadô e a tar da 'internete' que o seu Lula mandou. Dona Dirma, por favô, é por meus fios que vim lhe falá, sei que dumingo a sinhora vai ganhá pra prisidenta, mais resorvi vim antes, vim pedi pra sinhora assumi um cumprumisso co'as famía que nem que eu, não ficá bandonada otra veiz.

Dona Dirma, já lhe disse do meu trabaio não me orguio não, mas foi o único jeito que achei pra compretá o que farta lá em casa. Num tô recramando, tô só querendo ixpricá, pruque foi o seu Lula que feiz nossa vida miorá. Sabe Dona Dirma, acho inté que ele foi o primeiro home, que me oiô sem de mim se aproveitá. Meu pai nem conheci e os pai dos meus fios, num sei quem é. Mais seu Lula, oiô pra gente feiz a borsa iscola e o fome zero e minhas fia nunca mais drumiram churumingando de fome. É por isso que tô lhe improrando, pra gente num te que vortá passa fome, a sinhora num sabe quantas noite, quando minhas fias choravam cum a barriga roncando, eu percisei freve umas foias de chá pras bicha delas inganá. Intonce dizia pras minina se acarmá que se cuntinuassem a chorá, o bicho que roncava na barriga ia ficá muintio furioso e pudia inté matá... era verdade, num era dona Dirma, o bicho da fome inté pudia matá?!

É só isso que vim improrá Dona Dirma, não deixe esse marvado bicho da fome vortá as minha minina assustá. Quando a sinhora intrá naquele palácio, não se isqueça de nóis. Eu não lhe conheço dereito mais é que tão falando tanta coisa, que inté tive medo que a sinhora fosse capaiz de co'a gente num se importá. Eu sei Dona Dirma, tem gente qui inté diz que é ismola, deixa eles falá... a sinhora é mãe, é avó, a sinhora sabe cumé que aperta o coração da gente, vendo um fio chorá.

Intonce Dona Dirma, vo fazê minhas reza prá sinhora continua fazendo esse Brasir miorá, e, se a sinhora não achá que vo lhe abusá, quem sabe tamém dá pra dá uma miorada no 'SUIS' e aí, eu possa tratá mior da cabeça e, quem sabe inté outro trabaio incontrá.

Inté Dona Dirma, inté...

Obs.: Qualquer semelhança é mera coincidência.

Gelci Agne
Enviado por Gelci Agne em 29/10/2010
Reeditado em 30/10/2010
Código do texto: T2584970
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