HOMENAGEM A VARGAS LLOSA E MAYAKOVSKY

Tem uma fábula que conta a história de um grande incêndio na floresta. Deste fogo, todos os animais fugiam amedrontados em direção ao rio. Somente um fraco pássaro voava em direção ao fogo com uma gota d’água no bico. Quando indagado pelos outros animais do porquê de estar fazendo isso, arriscando a sua própria vida, ele respondeu: estou fazendo a minha parte!

Não sei precisar quantos, mas sei que fazem muitos anos (muitos, mesmo), que vi uma entrevista no programa “Roda Viva” da TVE, no qual estava sendo entrevistado um escritor, jornalista, ensaísta e político peruano de nome Mario Vargas Llosa. Esta entrevista modificou muito o meu objetivo de vida e me impressionou, em muito, o tamanho conhecimento por parte de um ser humano. Desde então, me transformei numa espécie de máquina de absorver informação, mesmo sabendo que nunca alcançarei a ter, sequer, dez por cento do conhecimento e eloquência dele. Logicamente, gênios nascem gênios e, com o tempo, exercem a sua condição de gênio, tal como Vargas Llosa. A mim, só resta esta precária condição de ser humano normal, que luta contra a sua ignorância, todos os dias da vida.

Claro que não tenho a petulância de pensar poder repetir a história daquele filho de um pobre agricultor do interior do Peru, que alcançou o Prêmio Nobel de Literatura, em 2010; talvez, no entanto, possa estimular uma pessoa, ao menos, por meio dos meus parcos textos, a querer se instruir um pouco mais. Mas, principalmente, tenho o dever e a obrigação, como membro da sociedade na qual existo e coexisto com outros seres humanos, de querer e pretender o melhor para todos e não refugar a parcela de responsabilidade que a mim corresponde, por ínfima que ela seja.

Em homenagem ao seu belo texto em defesa ao direito de expressão, da democracia e de todos os que lutaram e morreram por ela, gostaria, muito, de dedicar a todos os colegas e moderadores (que tanto nos aturam), desta bonita comunidade, estes lindos versos de Vladimir Vladimirovich Mayakovsky (poeta russo, 1893-1930):

Na primeira noite, eles se aproximam

e colhem uma flor de nosso jardim.

E não dizemos nada.

Na segunda noite, já não se escondem,

pisam as flores, matam nosso cão.

E não dizemos nada.

Até que um dia, o mais frágil deles,

entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua,

e, conhecendo nosso medo,

arranca-nos a voz da garganta.

E porque não dissemos nada,

já não podemos dizer nada.

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