Equador

Se Henry Miller se calasse e sua boca se enchesse de formigas antes mesmo de se mostrar um exímio amante, não me refestelaria com os belíssimos trópicos que ele declinou tão bem.

Minhas expectativas nunca ultrapassaram o Trópico de Câncer, nem o de Capricórnio, elas se equilibraram tal qual o Equador.

Não me compararia a Miller nem ao relatar o menor suspiro de desejo intenso, nem ao menos numa linha do pós-guerra, mas humana que sou, estou tomada de febre do meio.

Poderiam dizer que é a febre dos trinta e cinco, que é o frisson da idade e eu poderia discordar dizendo que é além disso. Mas é, caro leitor, a minha palavra contra a sua, nem sei se tenho argumentos para convencê-lo do contrário.

Guardei por anos um silêncio pesado entre a leveza de devaneios e gozos mais íntimos. Não soube me expressar bem. Prendi-me por motivos errados e continuo cedendo ao que a boca cala e o corpo rasga. Equilibro-me entre fazer o que quero com o que esperam de mim, um exemplo plausível de Equador Perfeito.

Nego ser uma queda de braços, ou uma luta de boxe, embora me sinta nocauteada, é uma guerra de mãos e mesmo que pareça que uma quer sustentar a outra, evitando a queda, não há força suficiente para sustentar o desencanto preso entre os dedos da esperança. A fé é fraca e com tão pouca resistência a tarefa de segurar uma das partes vai se tornando cada vez mais árdua, cada vez mais perdida.

Equatoriais meus verbos secam no pretérito perfeito do subjuntivo e eu intransitivo-me.

Larissa Marques
Enviado por Larissa Marques em 01/01/2011
Código do texto: T2703789
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