NO DESERTO DO CORAÇÃO
“Eu te construirei, nem ao Norte
Nem no Sul. Nem a Leste, nem Oeste
Mas, no centro deste deserto...”
Uma tempestade sonora e aterradora
A sacudir todo um reino e suas construções
Seus costumes, alicerceis, suas crenças
Ventos fortes atravessam parapeitos e janelas
Perpassando os corpos a tilintarem
Entre o medo e o frio espectral.
Gritos pavorosos enchendo o espaço
Rasgando as almas como panos velho.
Treme o chão, paredes desmoronam
Assoalhos partem-se tragando tudo
Numa fúria de fim de mundo
Tudo muito imediato, frenético e louco
A história brotando aos olhos como um rio
Claro e límpido a revelar detalhes e minúcias.
Perante o ribombar catastrófico que tudo tragava
Busquei apoio e abrigo.
O quanto de desilusão apoderou-se do meu espírito
Matraqueando ruidosamente
Emergiu todas as construções nas trevas
O mundo inteiro caiu sobre minha cabeça
Tateie no escuro para não ser arrebatado
Pela volúpia e pelo desespero.
A tempestade mesmo sem acabar
Mistura-se ao todo e perde-se.
As águas da razão invadiram o reino
E lava literalmente a alma
Os porões dogmáticos são preenchidos
E passam a exibir-se como fonte de água pura
O cheiro de passado e mofo é apagado
Pela carícia do cheiro natural e vivo
Das coisas vivas...